Na trilha do velho rio - 11 (Sexta, 14 Agosto 2009)

Piranhas, Alagoas
Sábado, 14 de agosto de 1999

Piranhas é realmente uma cidadezinha bem interessante. É uma das paradas das quais mais me lembrarei. Gostei muito de suas casas antigas e a bela vista do rio – a mais bonita até agora. Descobri mais algumas informações sobre a cidade numa reportagem exposta na parede da pousada.

Piranhas foi fundada no século 18, como arraial. Começou com pescadores. Segundo a lenda, um deles pescou uma grande piranha e, ao chegar em casa, notou que havia esquecido o cutelo. Disse ao filho que fosse ao "porto da piranha" buscá-lo. O nome ficou.

Sua arquitetura é belíssima. Há várias pequenas casas coloniais, cercadas por ruas de calçamento de pedras. Uma pequena travessia para o passado. Não pude visitar a igreja principal do povoado – Nossa Senhora da Saúde -, pois estava fechada. Data do início do século 19.

Por um bom tempo, Piranhas viveu em torno da estação ferroviária. Era entreposto que distribuía mercadorias vindas da Bahia para as cidades da região. O prédio da estação foi concluído em 1881. Foi autorizado por D. Pedro I em 1854, quando ele estava de passagem rumo a Paulo Afonso. O prédio hoje abriga o Museu do Sertão, que exibe vários objetos de uso corrente do sertanejo e muitas fotos sobre o cangaceiro Lampião, o rei, que foi morto bem perto, embora do outro lado do rio, em Angicos, Sergipe. A cidade foi bem marcada pelo cangaço.

De manhã, tomamos o barco alugado de um pescador, Zé da Marina (sua mãe), até a Praia de Angicos, no município sergipano de Poço Redondo. O local fica em direção à foz. Da praia, seguimos por uma trilha, guiados por Francisco, um garoto magro de uns 13 anos que trabalha como guia-mirim. Cruzamos o lugar, entre mandacarus e caatingas, até a grota onde Lampião, Maria Bonita e seu bando foram executados numa emboscada. A trilha, de aproximadamente 750 metros, foi a que os volantes abriram em 1938 para a emboscada. O rei do cangaço foi morto em 28 de agosto daquele ano.

Francisco – ou Tico, como sua família o chama – contava os fatos da emboscada e um pouco sobre a história de Lampião. Falava com um certo orgulho, ou talvez esta não seja a palavra certa. Gustavo lhe perguntou se considerava o cangaceiro um bandido ou um herói. Para ele, Lampião era um pouco dos dois. Apesar de roubar muitas cidades, ele daria parte do que tirava dos ricos para os pobres, numa espécie de Robin Hood do sertão. Será?

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Foi uma experiência inesperada visitar da Grota de Angico. Para um nativo do distante Goiás, sinto, Lampião, Maria Bonita e todo o cangaço soam como algo imensamente longínquo, presente na cultura popular e nos livros de história. Nem sabia que o local da emboscada ficava tão perto do São Francisco. Imaginava que tivesse ocorrido no meio do sertão desértico.

Depois de Angico, voltamos a Piranhas e passeamos a pé pelas ruas estreitas num relevo sempre irregular. No barco, ainda a caminho da cidade, notei uma pequena igreja erguida na margem sergipana, em frente de Piranhas. Perguntei a Zé da Marina o que era. Ele nos contou a história, que soa como uma lenda trágica. Costumava ouvi-la de seus avós.

>Havia uma moça que morava com sua família na margem do rio. Noiva, havia se envolvido com outro homem. Decidira então fugir com ele. Marcou de encontrá-lo num morro próximo da margem. O noivo preterido, contudo, foi avisado e partiu ao encontro dela. A moça ainda esperava o amante quando o noivo surgiu. Tentou fugir e acabou morta. A capela foi erguida em sua homenagem no local do assassinato.

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À tarde, fomos à represa da hidrelétrica de Xingó, em Canindé do São Francisco, na margem sergipana. Tomamos um catamarã. Foi um passeio bem (até demais) turístico. Achávamos que iríamos seguir rio acima (o que realmente foi verdade) para ver o canyon até perto da Usina de Paulo Afonso. Ficamos, contudo, apenas no lago de Xingó.

PS: Continuo cansado. Ainda tenho aquele meio desejo de concluir logo a viagem. Mas isso pode esperar. É preciso paciência. A expectativa para amanhã é grande. Iremos a Penedo e atingiremos a foz, o ponto final de nossa jornada.

11:35 Escrito por fiume | Permalink | Comentários (0) | Tags: aventura, fotografia, viagem | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook | |  Imprimir