Terça, 04 Agosto 2009
Na trilha do velho rio - 3
São Roque de Minas
Quinta-feira, 4 de agosto de 1999
Nada de São Francisco hoje. Fomos à Cachoeira do Cerradão, num afluente chamado Santo Antônio. Fora do parque.
Foi uma boa caminhada. É possível avistá-la de longe. Imensa. Prosseguimos e a alcançamos. Mais de 200 metros de altura, em três etapas. A trilha até a base é repleta de mato e muitas, muitas pedras. Não foi uma caminhada fácil, mas exigiu bem mais agilidade que fôlego.
A Cerradão é imensa. Subimos até a base da queda principal, passando pelas duas primeiras, bem menores. Muitas andorinhas ficam voando no meio dela, dando rasantes com suas asas brilhantes e azuis. O Rio Santo Antônio, após a queda, corre por um imenso vale de fazendas até chegar ao São Francisco – encontro que não é possível ver da Cerradão.
A base da cachoeira é cheia de pedras, que formam um leito bonito. A água é extremamente gelada. Gustavo é bem mais animado que eu para essas coisas. Entrou sem desenvoltura (ou melhor, com alguma, embora pequena) em todas as lagoas na base da cachoeira. Eu entrei apenas uma vez, "forçado" a tentar resgatar o Armani que estupidamente esqueci de trocar pelos óculos de supermercado e deixei cair de uma pedra, num vão que não consegui alcançar nem com os pés. Busca em vão. Ah! Ah! Ah!
Depois de explorar bem a base da queda, refizemos a trilha de volta e fomos de carro até uma fazenda da região. Me lembrou um pouco da infância, quando ia visitar a fazenda do vizinho ou alguma outra de um amigo qualquer de meu pai. Me integrei bastante com a família que morava lá. Gente simples e pobre, que vive da roça sem energia elétrica e dorme às 20 horas.
A mulher de Zé Mário trabalhava no corte de um porco, cujas partes eram despejadas num tonel em gordura fervente. Depois, seriam embebidas na manteiga, para que não se estragassem. Vida no campo sem geladeira...
Zé Mário era uma figura como há muito não via, principalmente neste meus tempos de São Paulo. Um caipira mesmo, que fala "arribar pra cima é o único jeito, não tem jeito de arribar pra baixo". Parecia os caipiras de Goiás.
Conversei bastante com ele, com meu goianês. Falamos até sobre pequi, que não faz muito o gosto da família. "A trabalheira não compensa", explicou a filha dele, uma menina de uns 20 anos ou menos, cujas roupas estavam cheias de furos.
Tivemos um farto almoço caipira, com direito a uma dose de pinga para abrir o apetite, tomamos o carro até outra fazenda, para ver a Cerradão do alto. Cena impressionante. A poucos metros da casa da fazenda, corre um pequeno riacho, cujo leito seguimos. De repente, surge um precipício gigantesco, de onde as águas do riacho despencam formando a imensa queda-d'água. Tudo isso bem próximo da casa. Parece coisa de história infantil ou desenho animado.
Do alto, chegamos bem perto da beirada do precipício. Pedi a Toninho que segurasse meu colete nas costas, para que eu pudesse chegar ainda mais próximo e fotografar.
É fantástico ver do alto – mais de 200 metros! – o imenso vale à frente e o leito pedroso do rio seguindo rumo ao horizonte até se perder numa fenda entre os montes – sem contar a vista de todo o percurso que fizemos caminhando até a base.
PS: Duas sobre Gustavo: 1. Ele me disse que fotografasse, na fazenda no alto da Cerradão, as vacas que estavam num pequeno curral. Eram bezerros... 2. Entreguei meu boné a ele e disse: "Use." Ele tentou colocá-lo na cabeça e me devolveu: "Não serve." Gustavo está sempre entrevistando gente como o ministro da Economia e até o presidente da República, mas não sabe que existe um regulador de tamanho num boné...
16:35 Escrito por fiume em Aventura, Fotografia, Viagem | Permalink | Comentários (0) | Tags: aventura, fotografia, viagem | | del.icio.us | | Digg | Facebook | | Imprimir
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