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Sábado, 05 Novembro 2005

Isto é Brasil

A história todos se lembram. Passou ao vivo na TV. Foi mesmo um show. Depois de um assalto frustrado, Sandro do Nascimento manteve reféns os passageiros de um ônibus durante um cerco policial no Jardim Botânico, no Rio. O desfecho provocado pela incompetência da polícia: seqüestrador e uma refém mortos – a professora Geisa Firmo Gonçalves, de 20 anos.

 

Todo mundo que viu odiou o cara. Estava lá um marginal, um criminoso mesmo, com um berro na cabeça de pessoas inocentes. Era simples. Merecia estar morto. Ponto.

 

O problema é que não é tão simples assim. E não é questão de defender bandido.

 

Ônibus 174, documentário de José Padilha lançado em 2002, mostra por quê. É genial. É uma reportagem minuciosa, detalhada. Vai intercalando as cenas malditas no ônibus com entrevistas – policiais que participaram da trapalhada operação, jornalistas e cinegrafistas que fizeram a cobertura, analistas, comparsas de Sandro, parentes, as vítimas do seqüestro –, cenas de reformatórios juvenis e prisões e trechos de documentos dessas instituições.

 

Está tudo ali no filme. Todas as causas desta tragédia, aquelas mesmas de sempre: miséria, desigualdade, despreparo policial, incompetência política. Nossa incompetência.

 

Sandro faria 22 anos em 2000, quando ocorreu o episódio. Não sabia ler nem escrever; nunca tinha trabalhado. Aos 10 anos, assistiu a uma cena grotesca: sua mãe, grávida de gêmeos, foi degolada num bar. Foi viver na rua. Roubava. Cheirava cola e coca. Em 1993, era um dos meninos de rua que dormiam sob uma marquise na Candelária. Viu 8 de seus colegas serem assassinados a tiros por policiais militares. Sobreviveu. Fugiu de reformatórios e prisões.

 

Tudo isso culminou ali, no episódio do seqüestro, um grito para todo o País. Ou consertamos um monte de coisas e cuidamos bem de nossos cidadãos ou vamos continuar jogando em covas Sandros e Geisas.

 

Ônibus 174 é um filme que deve, obrigatoriamente, ser visto. Escancara na tela por que o Brasil é o Brasil. De um ponto de vista jornalístico ou cinematográfico, Sandro é um belo personagem. De um ponto de vista da realidade, Sandro é um personagem esplêndido. Infelizmente.

00:15 Escrito por fiume em Filme | Permalink | Comentários (0) | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook | |  Imprimir

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