Terça, 18 Outubro 2005
Há limites para a vingança?
O cara bêbado é resgatado pelo amigo na delegacia. Numa cabine telefônica, fala para a filhinha aniversariante que já está indo para casa. Enquanto seu amigo fala ao telefone, o cara desaparece. Surge num apartamento estranho. Dão-lhe comida por uma abertura na porta. Ele implora por saber o que está acontecendo.
No estranho cárcere, ele vê na TV que sua mulher foi assassinada. O repórter informa que ele, já desaparecido havia um ano, é o principal suspeito. Suas digitais foram encontradas na casa. Ele planeja fugir.
Passam-se 15 anos. Eis que é libertado. Aparece dentro de uma mala, num gramado no teto de um edifício. O cara vê uma pessoa. Ele cheira, toca o corpo, o rosto do homem. Trêmulo, toma sua mão e a faz tocá-lo. Emociona-se por rever, finalmente, um semelhante. O semelhante tem um cachorro nos braços e informa-lhe que está prestes a se atirar do parapeito.
O cara conta-lhe sua história e decide viver, descobrir o que está acontecendo, quem lhe pôs naquela situação. Quer vingança. No elevador, vê uma mulher, “uma fêmea”. Enquanto atravessa a rua em frente do edifício, o corpo do semelhante destrói um carro estacionado.
Ele pára em frente de um restaurante. Um desconhecido aproxima-se e entrega-lhe um celular e uma carteira com dinheiro. Diz-lhe que de nada adianta lhe perguntar algo, pois ele nada sabe.
No restaurante, ele conversa com a garota bonita que prepara comida no balcão. Diz a ela que mulheres não são boas para fazer sushi, pois têm as mãos quentes. Pede a ela que lhe prepare algo vivo. Toca o celular. É seu inimigo. Nega-se a lhe dizer quem é.
A moça busca o animal e o mostra a ele. Prepara-se então para fatiá-lo. Ele toma o animal e o põe na boca. Ficam os tentáculos vivos para fora de sua boca cheia, enrolando-se em seu braço. Ela toca-lhe a mão para mostrar-lhe que a dela não é tão quente. Ele desmaia.
O cara acorda numa cama e vê que ela está lendo os cadernos dele, nos quais narra sua história. Ele os toma de volta. Ela olha o termômetro e diz que o antitérmico fez efeito. Ele diz que a falta de sol deixou seu corpo sem vitaminas e, conseqüentemente, sem resistência a gripes. Pergunta a ela o que era a cartela de medicamento. Ela responde que eram supositórios. Como ela poderia dar-lhe o antitérmico se ele estava desacordado?
Ela vai ao banheiro. Senta-se no vaso. Ele arromba a porta e tenta agarrá-la à força. Ela o rechaça. No quarto, ele se diz envergonhado. Ela diz que sabe que ele está perturbado. Ela o perdoa.
São os primeiros 30 minutos de Oldboy, do coreano Park Chan-Wook, vencedor do prêmio do júri no Festival de Cannes de 2004. E a sucessão de acontecimentos estranhos continua.
É mesmo um filme estranhíssimo. Mas como é bem filmado! Como é bem editado, bem contado! Tem um quê de quadrinhos, mas a edição é tão cinematográfica.
Pode-se até não gostar dele, não é mesmo uma obra fácil e uma cultura tão distante quanto a coreana causa uma certa estranheza. Mas é impossível deixar de reconhecer que se trata de um filme criativo e muito bem feito.
Tem lá seus exageros, como as cenas grotescas – a do animal vivo e a da língua são difíceis mesmo de ver. É também um filme violento. E o pecado do protagonista parece um tanto quanto leve para uma pena daquele tamanho.
É uma história sobre a vingança. O desfecho para a busca por vingança do protagonista é surpreendente. Inimaginável até. Há limites para se vingar?
23:35 Escrito por fiume em Filme | Permalink | Comentários (0) | | del.icio.us | | Digg | Facebook | | Imprimir
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