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Segunda, 01 Maio 2006

Árido Movie

Fui ver no sábado. É bom mesmo. Talvez haja um exagero em querer abordar, simultaneamente, muitas questões que formam grandes problemas no semi-árido: seca, religião/misticismo, coronelismo, colonialismo, preconceito, atraso, narcotráfico. Mas não ficou um balaio-de-gatos, não é isso o que eu quero dizer. As histórias são bem contadas.

A principal, do personagem Jonas, é bem interessante. As outras duas, secundárias, também têm valor: a da videomaker e a do trio de amigos malucos — achei esta última também um tanto exagerada em sua porralouquice, mas cabe a ela toda a parte divertida do filme.

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Segunda, 23 Janeiro 2006

Que viva o imperador...

37° no termômetro da Henrique Schaumann. Depois de sushi à sombra das árvores no Sumaré, me abrigo no ar condicionado do Arteplex e nas paisagens gélicas de A Marcha do Imperador

Não sei dizer se foi o melhor documentário que já vi. Mas com certeza foi o mais bonito.

As paisagens do filme de Jean Luc Jacquet são magníficas. E, de fato, a vida do pingüim imperador vale um romance. A idéia de misturá-los (vida e drama) como forma narrativa para mostrar como eles vivem — e sobrevivem — no mais inóspito dos hábitats funciona perfeitamente. Não por acaso foi o segundo documentário mais visto de todos os tempos, atrás apenas de Fahrenheit 9/11, de Michael Moore.

No deserto branco, o embate entre a vida e o inverno é tocante. Quem vencerá?

[Ao som de: Nina Simone / The Best of (s/d; Sum Records), em homenagem ao Pedro]

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Terça, 27 Dezembro 2005

A lista da Bravo!

A revista Bravo!, da Editora Abril, lançou número comemorativo de sua 100ª edição. Traz listas das 100 melhores produções em cada uma das áreas abordadas no período, isto é, desde outubro de 1997. Cidade de Deus encabeça a de filmes. É uma lista coerente, mas tem coisas, claro, duvidosas. Fale com Ela, por exemplo, está à frente de Tudo Sobre Minhã Mãe — 3º ante 22º. Ambos são de Pedro Almodóvar e ambos são magníficos. Mas a ordem parece invertida.

 

Adaptação é o 100º. Se for para citar Charlie Kaufman (no caso dele vale mais o roteirista do que o diretor), melhor seria Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, que não aparece no ranking. Adaptação é bacana, mas no final vira um trilher policial bem safado. Ou seja, cede completamente ao "cinemão".

 

Cinemão mesmo, daquele lá de Roliúde e com muitos efeitos especiais, aparecem Kill Bill (volumes 1 e 2, claro, pois se trata de um único filme), de Quentin Tarantino, em 14º e Sin City, de Frank Miller e Robert Rodriguez, em 95º. Sobre Kill Bill, eu não sei não. Acho o filme uma bobagem. São apenas lutas coreografadas misturadas a faroeste e quadrinhos. Já Sin City vale mesmo estar lá.

 

Gostei da inclusão de Tempestade de Gelo (55º), um filme tão bonito quanto pouco comentado. É do Ang Lee.

 

Há poucas comédias. Entre elas As Confissões de Schmidt (56º), que é engraçadinho, mas daí a figurar em qualquer lista...

 

Outras estranhezas: E Aí, Meu Irmão. Cadê Você?, dos irmãos Cohen, em 23º; O Show de Truman, de Peter Weir, em 72º; Amarelo Manga, do brasileiro Cláudio Assis, em 90º (que é um filme bem exagerado).

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Domingo, 06 Novembro 2005

De volta pra casa

Gosto, particularmente, de viagens pessoais. Por isso me interessei por Hora de Voltar, filme idependente dirigido e roteirizado por Zach Braff, um cara que faz a série televisiva Scrubs – que eu nunca vi. É dele também o papel principal.

 

No filme, Braff é um jovem ator de TV em Los Angeles não muito bem-sucedido, que vive permanentemente num estado letárgico por conta dos medicamentos que usa, prescrevidos pelo próprio pai psiquiatra. Ou seja, o pai ainda mantém grande domínio sobre o filho. Volta para casa, em Nova Jersey, após 9 anos de ausência, para o enterro da mãe tetraplégica.

 

Começa aí sua viagem pessoal. Na sua pacata cidade natal, ele reencontra velhos amigos, faz uma nova amizade e exorciza velhos fantasmas. Não é nada criativo, reconheço. Mas o filme não é ruim. Talvez o defeito é que seja uma viagem juvenil demais.

 

Hora de Voltar tem um ritmo lento, mas contínuo, uma trilha sonora que casa bem com essa lentidão e atores que dão boa veracidade aos personagens, entre eles Ian Holm, como o pai, e o próprio Braff. Mas o destaque é mesmo Natalie Portman, como uma mentirosa compulsiva.

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Sábado, 05 Novembro 2005

Isto é Brasil

A história todos se lembram. Passou ao vivo na TV. Foi mesmo um show. Depois de um assalto frustrado, Sandro do Nascimento manteve reféns os passageiros de um ônibus durante um cerco policial no Jardim Botânico, no Rio. O desfecho provocado pela incompetência da polícia: seqüestrador e uma refém mortos – a professora Geisa Firmo Gonçalves, de 20 anos.

 

Todo mundo que viu odiou o cara. Estava lá um marginal, um criminoso mesmo, com um berro na cabeça de pessoas inocentes. Era simples. Merecia estar morto. Ponto.

 

O problema é que não é tão simples assim. E não é questão de defender bandido.

 

Ônibus 174, documentário de José Padilha lançado em 2002, mostra por quê. É genial. É uma reportagem minuciosa, detalhada. Vai intercalando as cenas malditas no ônibus com entrevistas – policiais que participaram da trapalhada operação, jornalistas e cinegrafistas que fizeram a cobertura, analistas, comparsas de Sandro, parentes, as vítimas do seqüestro –, cenas de reformatórios juvenis e prisões e trechos de documentos dessas instituições.

 

Está tudo ali no filme. Todas as causas desta tragédia, aquelas mesmas de sempre: miséria, desigualdade, despreparo policial, incompetência política. Nossa incompetência.

 

Sandro faria 22 anos em 2000, quando ocorreu o episódio. Não sabia ler nem escrever; nunca tinha trabalhado. Aos 10 anos, assistiu a uma cena grotesca: sua mãe, grávida de gêmeos, foi degolada num bar. Foi viver na rua. Roubava. Cheirava cola e coca. Em 1993, era um dos meninos de rua que dormiam sob uma marquise na Candelária. Viu 8 de seus colegas serem assassinados a tiros por policiais militares. Sobreviveu. Fugiu de reformatórios e prisões.

 

Tudo isso culminou ali, no episódio do seqüestro, um grito para todo o País. Ou consertamos um monte de coisas e cuidamos bem de nossos cidadãos ou vamos continuar jogando em covas Sandros e Geisas.

 

Ônibus 174 é um filme que deve, obrigatoriamente, ser visto. Escancara na tela por que o Brasil é o Brasil. De um ponto de vista jornalístico ou cinematográfico, Sandro é um belo personagem. De um ponto de vista da realidade, Sandro é um personagem esplêndido. Infelizmente.

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Quinta, 03 Novembro 2005

O monstro é humano

No início de A Queda, Traudl Junge diz: "Sinto que deveria estar brava com aquela jovem ou que não deveria perdoá-la por não se dar conta dos horrores do monstro, por não se dar conta de onde estava se metendo. A curiosidade me dominou. Eu simplesmente não pensei que o destino me levaria a um lugar onde eu não queria estar. Mesmo assim, é muito difícil me perdoar por ter feito aquilo." É um depoimento sincero. Quem o faz é a idosa sobre a jovem – ela própria – que aos 22 anos se tornou a secretária pessoal de Adolf Hitler, em 1944.

 

O depoimento introduz o filme em si – e é também seu desfecho: "Ser jovem não era desculpa". A partir da história de Traudl – que seguiu com a vida, morrendo em 2002 –, A Queda recria o desfecho da potência alemã. Mostra Hitler em seus últimos momentos, recluso no bunker sob a Chancelaria Alemã, enquanto o exército russo vai conquistando Berlim.

 

O interessante é como Hitler é mostrado. O filme dá-lhe uma dimensão humana. Ele é amável com a secretária, com suas assistentes, beija sua pastora alemã. Mas está enlouquecido com a derrota iminente. Despeja ordens aos berros, mostra seu ódio contra os judeus, manda executar o oficial de ligação com o ministro do Interior, porque este está tentando negociar uma rendição – o oficial é cunhado de sua mulher, Eva Brown. Recusa-se sempre a deixar Berlim. O ator que o interpreta, Bruno Ganz, é espetacular. Faz um Hitler banal, bem longe do estereótipo demoníaco.

 

A cada notícia sobre o avanço russo, um desespero frio toma conta do bunker. Eva conclama todos a dançar, muitos oficiais estão bêbados, outros discutem formas de suicídio. A cena que recria o destino dos seis filhos do ministro da Propaganda, Josef Goebbels, é impressionante.

 

Fora do bunker, o bombardeio russo é incessante e as milícias da SS executam supostos desertores e cidadãos fugitivos. Berlim está em ruínas.

 

Imagino uma guerra como o mais real dos pesadelos. A Queda, que ganhou o subtítulo As Últimas Horas de Hitler, mostra o Führer vivendo, enfim, o seu. É um filme genial.

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Quarta, 02 Novembro 2005

O visual é o destaque

É divertido. Mas não tão engraçado. O enredo de A Noiva-Cadáver, de Tim Burton e Mike Johnson, é tão simples que fica fácil demais saber o caminho que ele vai seguir. O sujeito tímido vai se casar com uma noiva que não conhece, por interesse das famílias de ambos, mas se atrapalha e acaba se casando com uma mulher morta que foi vítima de um feitiço.

 

Para quem já viu os filmes de Burton, não há nada de muito diferente. As canções atrapalham um pouco, mas reconheço que este é uma questão particular – não curto cantorias.

 

O melhor ficou por conta do visual rico obtido com a técnica de animação stop motion – os traços dos personagens são quase todos genialmente grotescos –; algumas piadas – mórbidas, claro –; e as ótimas interpretações de Helena Bonham Carter, Johnny Depp, Emily Watson e Christopher Lee.

 

Mas, como todos os filmes de Burton, tende a se tornar um cult. 

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Terça, 18 Outubro 2005

Há limites para a vingança?

O cara bêbado é resgatado pelo amigo na delegacia. Numa cabine telefônica, fala para a filhinha aniversariante que já está indo para casa. Enquanto seu amigo fala ao telefone, o cara desaparece. Surge num apartamento estranho. Dão-lhe comida por uma abertura na porta. Ele implora por saber o que está acontecendo.

No estranho cárcere, ele vê na TV que sua mulher foi assassinada. O repórter informa que ele, já desaparecido havia um ano, é o principal suspeito. Suas digitais foram encontradas na casa. Ele planeja fugir.

Passam-se 15 anos. Eis que é libertado. Aparece dentro de uma mala, num gramado no teto de um edifício. O cara vê uma pessoa. Ele cheira, toca o corpo, o rosto do homem. Trêmulo, toma sua mão e a faz tocá-lo. Emociona-se por rever, finalmente, um semelhante. O semelhante tem um cachorro nos braços e informa-lhe que está prestes a se atirar do parapeito.

O cara conta-lhe sua história e decide viver, descobrir o que está acontecendo, quem lhe pôs naquela situação. Quer vingança. No elevador, vê uma mulher, “uma fêmea”. Enquanto atravessa a rua em frente do edifício, o corpo do semelhante destrói um carro estacionado.

Ele pára em frente de um restaurante.  Um desconhecido aproxima-se e entrega-lhe um celular e uma carteira com dinheiro. Diz-lhe que de nada adianta lhe perguntar algo, pois ele nada sabe.

No restaurante, ele conversa com a garota bonita que prepara comida no balcão. Diz a ela que mulheres não são boas para fazer sushi, pois têm as mãos quentes. Pede a ela que lhe prepare algo vivo. Toca o celular. É seu inimigo. Nega-se a lhe dizer quem é.

A moça busca o animal e o mostra a ele. Prepara-se então para fatiá-lo. Ele toma o animal e o põe na boca. Ficam os tentáculos vivos para fora de sua boca cheia, enrolando-se em seu braço. Ela toca-lhe a mão para mostrar-lhe que a dela não é tão quente. Ele desmaia.

O cara acorda numa cama e vê que ela está lendo os cadernos dele, nos quais narra sua história. Ele os toma de volta. Ela olha o termômetro e diz que o antitérmico fez efeito. Ele diz que a falta de sol deixou seu corpo sem vitaminas e, conseqüentemente, sem resistência a gripes. Pergunta a ela o que era a cartela de medicamento. Ela responde que eram supositórios. Como ela poderia dar-lhe o antitérmico se ele estava desacordado?

Ela vai ao banheiro. Senta-se no vaso. Ele arromba a porta e tenta agarrá-la à força. Ela o rechaça. No quarto, ele se diz envergonhado. Ela diz que sabe que ele está perturbado. Ela o perdoa.

 

São os primeiros 30 minutos de Oldboy, do coreano Park Chan-Wook, vencedor do prêmio do júri no Festival de Cannes de 2004. E a sucessão de acontecimentos estranhos continua.

 

É mesmo um filme estranhíssimo. Mas como é bem filmado! Como é bem editado, bem contado!  Tem um quê de quadrinhos, mas a edição é tão cinematográfica.

 

Pode-se até não gostar dele, não é mesmo uma obra fácil e uma cultura tão distante quanto a coreana causa uma certa estranheza. Mas é impossível deixar de reconhecer que se trata de um filme criativo e muito bem feito.

 

Tem lá seus exageros, como as cenas grotescas – a do animal vivo e a da língua são difíceis mesmo de ver. É também um filme violento. E o pecado do protagonista parece um tanto quanto leve para uma pena daquele tamanho.

 

É uma história sobre a vingança. O desfecho para a busca por vingança do protagonista é surpreendente. Inimaginável até. Há limites para se vingar?

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Terça, 04 Outubro 2005

Edifício inacabado

É bacana a idéia. Apontar a câmera para a classe média baixa em um só edifício da movimentada Copacabana, a "uma esquina da praia". Eduardo Coutinho é considerado o maior documentarista brasileiro, com obras como Cabra Marcado para Morrer e Peões. Para fazer Edifício Master, ele e sua equipe alugaram um apartamento por um mês e entrevistaram os moradores, na idéia de mostrar a "vida do prédio durante uma semana".

 

Os números do edifício são bem atrativos: 276 apartamentos conjugados (o quarto-e-sala) em 12 andares – 23 por andar –, mais de 500 moradores.

 

O filme mostra 37 entrevistados: o sujeito que conheceu Frank Sinatra e, modestamente desafinado, canta My Way; a moradora que passou por 28 apartamentos em seus 49 anos, todos – os anos e os apartamentos – no prédio; a jovem mãe que se prostitui; o síndico, adepto dos métodos Piaget e Pinochet para administrar o prédio; o casal de aposentados que se conheceu pelos classificados; o camelô que, diz, já foi bem de vida; a doméstica natural da Espanha que acredita que muitos pobres são, na verdade, preguiçosos; o homem que, abandonado quando bebê, encontra um recém-nascido deixado no corredor; entre outros. Enfim, na maior parte, são bons, muito bons personagens.

 

O problema é como isso é mostrado. Tudo é muito cru, muito solto, muito deliberadamente improvisado. Não há grande preocupação com edição, com detalhes, com cadência – por escolha, é verdade.

 

Não são mostrados detalhes dos apartamentos (nem uma só foto, nem um móvel estranho, nem uma geladeira velha), nem dos entrevistados (nem um anel, nem um sapato) nem do próprio prédio. Nem a fachada é apresentada. Há apenas uns poucos flagrantes dos corredores, que não conseguem amenizar essa situação amplamente verbal, embora sejam muitos bons: senhoras com um bolo cantando Parabéns pra você para uma das moradoras; a bela cena de uma criança de uniforme escolar batendo à porta do vizinho para que o gato possa entrar; a breve e discreta espiada pela janela nos apartamentos vizinhos.

 

Talvez tenha havido um equívoco de Coutinho ao dizer, na única e pequena narração no início, que o filme mostraria a vida do prédio. Isso ele não faz. Mostra, na verdade, as histórias de vida de seus moradores atuais.

 

(Tenho de abrir um parêntese aqui, já que estou dando meu depoimento um tanto mal-humorado sobre o que achei do filme. Talvez, por causa da profissão, eu já esteja acostumado demais a bons personagens e seus dramas, suas histórias, suas felicidades. Talvez eu me interesse no momento mais pela forma como as histórias são contadas. Vi em DVD. Gostaria de ter visto o filme no cinema, na época do lançamento, em 2002, para sentir a reação das pessoas às entrevistas, se ririam, se ficariam em silêncio).

 

O documentário está praticamente todo centrado nos depoimentos, que são, de fato, o essencial da obra. Mas eles vão correndo sem quase edição, sem unidade. Edifício Master parece, na verdade, um filme inacabado (Para não dizer mal-acabado).

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Segunda, 12 Setembro 2005

Uma calma de verão

Taí um filme bem didático. Coisa Mais Linda, documentário de Paulo Thiago, não é nada inovador – é até bem careta na linguagem. É apenas uma história (ou várias) bem contada. Bacana de ver. Estão lá o banquinho, a tardinha, o Rio...

 

O filme mostra, na verdade, a periferia da bossa nova para contar como ela nasceu, nos anos 1950, até o auge, em 1962, com o concerto no Carnegie Hall.

 

Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Moraes foram maiores do que ela. Todos os conhecem. São gênios. Não ficaram restritos ao estilo. Mas vários outros cantores e compositores ficaram, o que não significa que não tiveram importância no gênero, apesar de muitos deles não serem muito conhecidos atualmente. (Ou você sabe qual era a zaga da seleção campeã de 62? Mas sabe que o ponta-direita era o Garrincha, não?) Confesso que não conhecia muitos desses autores periféricos, como Durval Ferreira e Bebeto.

 

A partir de dois “zagueiros”, Carlos Lyra e Roberto Menescal, o documentário vai mostrando, ponto a ponto, como e por que a bossa nova surgiu, quem fazia o quê. Eles vão contando suas histórias, intercaladas pelas de outros músicos, por entrevistas com alguns conhecedores – um deles o mala do Nelson Motta – e por imagens da época. Descobrimos ali como surgiram o banquinho, o barquinho, o modo de cantar baixinho, as batidas de violão.

 

Alguns histórias são divertidas, tudo no filme é muito leve, naquele ritmo de calma de verão, como a própria bossa. É engraçada a parte do único dos bambambãs ainda vivo. O máximo que o diretor conseguiu foi filmar o prédio em que o gênio recluso mora.

 

Ah, além de tudo, tem, é claro, a própria bossa nova, o gênero musical do jeito que o Brasil queria ser .

 

PS.: A zaga de 62 eram o Mauro e Zózimo. Tive de pesquisar.

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Quinta, 08 Setembro 2005

2 Filhos de Francisco

Como andei lendo por aí nas críticas do filme, é preciso mesmo enfrentar preconceitos. Não tenho a menor paciência para música sertaneja. Simplesmente não faz meu estilo. Ponto.

 

Mas de tanto ouvir falar bem sobre 2 Filhos de Francisco – de amigos, dos jornais, dos sites, etc – fui assistir ao filme. E não é que é bom! Bom mesmo. Não é tão piegas (preste atenção no “tão). É claro que mostra a vida de miséria que os dois e a família levavam e isso é de fato sentimental. Mas não tem ali grande sentimentalismo.

 


Fiquei até com uma impressão bem melhor das duplas sertanejas. E desta dupla em especial. Eu nem sabia que o Luciano é tão mais novo que o Zezé. Já havia entrevistado os dois, certa vez, no primeiro show que fizeram depois do desfecho do seqüestro do irmão. Foram simpáticos. Mas trabalho é trabalho e o tema não era muito agradável – pena de morte, prisão perpétua...

 

O melhor é que não é um filme sobre música sertaneja. É a história do seu Francisco e como ele, um agricultor sonhador e persistente, construiu o sucesso dos filhos. E essa história vale mesmo um filme. Caboclo teimoso esse Francisco.

 


A produção é muito bem-cuidada. Todos os atores estão bem. O próprio Angelo Antonio está muito, muito bem. Os garotos que arrumaram também são ótimos. E o José Dumont como Miranda, o empresário picareta, está perfeito. Muito engraçado mesmo. Fiquei até imaginado que fim terá levado o tal Miranda.

 

O filme está fazendo um bocado de sucesso. Daqui a pouco vão querer indicá-lo como representante brasileiro no Oscar. Mas aí já é demais...

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Segunda, 22 Agosto 2005

Sin City, by Gustavo

Gustavo, amigo e uma das boas mentes pensantes que conheço, me mandou sua opinião sobre Sin City, que ele parece não ter curtido muito. Aqui vai:

About Sin City, é isso o que tenho a dizer (e disse, num blog sobre quadrinhos do Globo On, "Gibizada"):      
 
 

ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE 'SIN CITY'


Meu amigo Gustavo Alves, jornalista, artista plástico e leitor de quadrinhos, me mandou o seguinte texto:

"'Sin City' é uma adaptação perfeita da história em quadrinhos de Frank Miller. O que em si não significa que seja bom: na verdade, evidencia a diferença entre as duas linguagens e mostra que muito texto de história em quadrinhos não funciona quando é falado - como no caso do monólogo do assassino de aluguel no início do filme ou na parte em que Marv (Mickey Rourke) brada que 'os velhos tempos voltaram, baby'. Além do mais, deixou mais exposto o que há de paranóia nerd na revista. Ou existe outra resposta às perguntas abaixo?

a) Por que os piores vilões são todos baseados em figuras infantis deturpadas (o canibal com cara de 'nerd' e o 'Homem Amarelo', citação ao 'Yellow Kid', primeiro personagem de tiras de quadrinhos a ser publicado em jornais, que inspirou, aliás, o termo 'yellow press', usado nos Estados Unidos com o mesmo sentido que 'jornalismo marrom' é usado no Brasil)?

b) Por que todas as mulheres, gostosíssimas - o filme talvez seja a maior reunião de gostosas do cinema - se vestem e se portam como dominatrixes sadomasoquistas? E, ah, sim, com fantasias que novamente remetem a heróis infantis - o Zorro, samurai, etc.

c) Por que dois dos 'heróis' basicamente serem escravizados por duas destas mulheres fantasiadas? Um deles, Marv, aliás, é escravizado pelo CADÁVER de uma destas mulheres - que tem uma irmã gêmea para quem ele transfere esse fetichismo, numa espécie de 'Vertigo' que não ousa dizer o seu nome. Ele chega a se deixar ser torturado pela irmã gêmea...
e ri!

d) Voltando aos nossos vilões-infantis: um deles é desmembrado e morre devorado... por um lobo. ALÔ, BRUNO BETTELHEIM! O outro torna-se um fantasmagórico arremedo da figura infantil do 'Garoto Amarelo' depois de castrado.

Eu, heim."

Dica do Télio: Em 'A Psicanálise dos Contos de Fadas', Bruno Bettelheim faz uma radiografia das mais famosas histórias para crianças, arrancando-lhes o seu verdadeiro significado. O livro mostra as razões, as motivações psicológicas, os significados emocionais, a função de divertimento, a linguagem simbólica do inconsciente que estão subjacentes nos contos infantis.

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Segunda, 15 Agosto 2005

Nem Tudo é o que Parece

Já aviso que vou contar o final do filme.

 

Fui ver na onda da Folha, que fez crítica elogiosa e deu 4 estrelas na Ilustrada. É o segundo filme ruim de gângster inglês que vejo nos últimos tempos -- o outro é I'll Sleep When I'm Dead. É chato, não vale o esforço de ir até o cinema e pagar o ingresso.

 

Depois dos filmes do Guy Richie, o marido da Madonna, acho que ando esperando demais dos britânicos neste gênero. Pelo que vi na Folha, o diretor Matthew Vaughn é amigo e produtor de Ritchie. O crítico (ou crítica, não me lembro quem era) até recomendava o filme para quem tinha gostados de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch.  Mas não é bem assim.

 

A idéia até parece interessante. Está mais bem apresentada no título original, Layer Cake (camada de bolo). Tem a ver com a ambição de subir socialmente, escalar as tais camadas do bolo social. Deve ser alguma expressão britânica.

 

O protagonista, que não é bem ralé nem chefão na quadrilha, quer se aposentar do crime enquanto está indo bem. Mas terá de fazer um servicinho complicado para o chefão. Aí vai aparecendo aquele bando de gente dando porrada, gritando palavrões, negociando drogas, trapaceando uns aos outros. Não há nenhum personagem muito diferente, nenhum engraçado, nenhum que se sobressaia. Algo que as obras de Richie tinham de sobra.

 

O cara apanha em alguns momentos, bate em outros. Acaba matando o próprio chefe, que, claro, não havia passado o serviço pra ele por acaso. Rei morto, rei posto. Vira o chefe. E, no fim, morre pelas mãos de um bandidinho nerd, porque roubou-lhe a bela (põe bela nisso) namorada.

 

A vida no crime é efêmera. Grande novidade!

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Sin City

Primeiro, preciso dizer que, apesar de ter sido na adolescência um leitor de quadrinhos de Frank Miller, não conheço Sin City. Quando li as reportagens sobre o filme, fiquei indeciso sobre o que esperar. Miller é uma grife. Já garante algo. Mas adaptá-lo para o cinema – como adaptar qualquer história aparentemente não cinematográfica – não é garantia de nada.

Também fiquei em dúvida por ser, na verdade, uma história noir. Embora o gênero seja um dos principais do cinema – adoro dos clássicos Falcão Maltês e Chinatown ao futurista Blade Runner, além da homenagem De Repente Num Domingo –, o noir é datado, com a narrativa quase obrigatoriamente em primeira pessoa, os homens destemidos e as mulheres belas e fatais. Mais até do que o western ou o épico. Adaptá-lo, portanto, aos novos parâmetros do cinema atual é mais arriscado. Mas Sin City, o filme, é um bom acerto.

Renova dois gêneros: os quadrinhos adaptados ao cinema e o noir. E é justamente por isso que dá certo. É meio cinema, meio quadrinhos, numa medida bem equilibrada. A linguagem original é preservada e, assim, ameniza o que hoje soaria muito exagerado em um noir. Ou, nestes tempos de violência sem contexto pós-Tarantino, alguém ainda aceitaria facilmente um detetive com cigarro na boca e pistola na mão dizendo "baby" ou "boneca" a cada cinco minutos?

Curti muito também o conceito de podridão total. É tão cinematográfico. Ou tão quadrinhos... Algo como O Estranho Sem Nome ou as próprias histórias de Miller nas revistas.

Enfim, não tenho muito o que reclamar do filme. Nem pra fazer média.

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Segunda, 08 Agosto 2005

A Fantástica Fábrica de Chocolate - 2005

Sei lá. As memórias da infância quase sempre não são como parecem. Foi um dos filmes que mais vi com meus irmãos na Sessão da Tarde. Posso dizer que foi mesmo o filme da minha infância. Era genial. As cores, os personagens, os anões, a fantasia. E o chocolate, claro. Apesar disso, não me lembro tanto do filme original. Idade?

 

Gostei da versão de Tim Burton. Mas não pareceu a mesma coisa. Acho que na hora, ali, esqueci de ser criança. Prefiro conceder ao filme o benefício da dúvida e dizer que não entrei bem no clima.

 

Mas a mudança do Willy Wonka mais paterno de Gene Wilder para o cara freak interpretado por Johnny Depp também não ajudou. E o Burton ainda reclamou das comparações com o Michael Jackson! Ele transformou o cara num sujeito com traumas infantis que adora crianças e vive num mundo infantil. Queria o quê?

 

Os anõezinhos – na verdade, um só, replicado à exaustão – e suas musiquinhas continuam divertidos.

 

Como eu já conhecia a história, o melhor mesmo ficou, infelizmente, com a estética – diga-se, efeitos especiais. As novas tecnologias puderam dar à fábrica mais cores, mais detalhes, mais pirotecnia. Um ar mais fantástico ainda.

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Terça, 02 Agosto 2005

Quarteto Fantástico

Adaptação ruim de quadrinhos ruins. Onde eu estava com a cabeça para ver essa coisa?

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Terça, 26 Julho 2005

O Clã das Adagas Voadoras

Vi no rastro de Herói. Tudo o que o primeiro tinha de bom -- história criativa, épica, boas viradas de enredo, bons atores, imagens poéticas -- este tem de ruim. A impressão que me deu é que se tratava de um desenho animado de lutas marciais -- mas com um enredo policial --adaptado com competência para o cinema. Mas só. As paisagens são bonitas, os efeitos especiais são bons. Animação pura. Não tem enredo.

 

Não vi nenhuma entrevista do diretor sobre o filme, mas não duvido que ele tenha dito aquela velha frase: "Queria contar uma história da amor". Seria uma tola justificativa para o que é na verdade um filme de lutas coreografadas com belas imagens. E só. Passei todas as lutas em velocidade acelerada. O finzinho, finzinho mesmo, ganha dramaticidade e as imagens ficam mais bonitas -- mas não antes de uma extensa luta coreografada. Quase redime um pouco o filme. Mas o buraco aberto já era muito, muito grande.

 

O enredo policial também enfraquece a trama. Investigador se envolve com mulher bonita para se infiltrar em grupo criminoso, mas acaba se apaixonando. Isso é filme batido de Hollywood. Dá até pra ver: um dos Baldwin; uma modelo que quer virar atriz; em vez de lutas coreografadas, pistolas; uma paisagem bonita pra dar um clima -- o Rio Mississipi? E temos A Quadrilha das Pistolas Automáticas...

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Quinta, 21 Julho 2005

I'll Sleep When I'm Dead

Aqui ficou Vingança Final. É do Mike Hodges, mesmo diretor de Crupiê (que eu não vi, mas muitos disseram que é muito bom). Mas é lixo total. Não salva nada.

É para ser um filme de gângster, com algo de noir, mas a história é pobre, mal contada (se arrasta muito), usa recursos baratos (o cara está totalmente fora de circuito faz três anos e de repente tem um insight de que algo aconteceu com o irmão dele. E ainda chega a tempo para a necropsia). Até o Clive Owen está ruim (mesmo porque o papel era ruim). O falso final em aberto só piora as coisas.

E o título é risível. Por mais pobre que seja, o título brasileiro tem mais a ver com a história do que o original.

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Terça, 19 Julho 2005

Herói

É surpreendente. Na verdade, é surpreendente porque eu  esperava apenas plasticidade. A história também é legal, dá algumas viradas (impensáveis em termos ocidentais, claro, mas bacanas). E não é apenas sobre lutas coreografadas (como em Kill Bill, por exemplo, em que eu dormi no meio porque só mostrava lutas).
 

Melhor dizer que é impressionante. Curti a história, os atores, as paisagens e a forma de filmagem. E as cores, as cores são demais... O coro no final, mostrando o apelo popular por vingança, foi uma sacada muito legal.
 

Já tinha visto há muitos anos, no cinema ainda, Lanternas Vermelhas e Tempo de viver e ambos haviam me impressionado bastante.

 

Com Herói, fazia tempo que eu não via um filme tão bonito. Em todos os sentidos.

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Domingo, 26 Junho 2005

Elefante

É simplesmente genial. Primeiro, porque é uma história que deve ser contada, apesar de toda a sua mostruosidade -- uma recriação da tragédia de Columbine. Segundo, pela forma como ela é contada por Gus van Sant.

 

A história toda é mostrada meio à distância -- a câmera (e o nós) vai acompanhando cada personagem -- num ritmo quase único, esticada até o limite de ser reencontrada de volta no tempo por um novo ângulo (no caso, de um outro personagem).

 

E você sabe quem são todos os personagens. São todos adolescentes comuns.

 

Depois do filme, estava tão tenso que só hoje, o dia seguinte, notei que não sabia p q ele se chama Elefante. Pesquei a explicação do Merten, no arquivo do Estadão:

 

"O título é uma homenagem ao diretor Alan Clarke, que fez um filme homônimo sobre a violência religiosa na Irlanda. Nele se conta, como uma parábola, a história do cego que quer saber o que é um elefante. Trazem o bicho e o cego esquadrinha o animal com as mãos, tentando desvendar, por meio do tato, o segredo da sua forma. Mas o rabo, a tromba, tudo o confunde e ele não consegue totalizar uma idéia. A soma das pequenas partes não lhe permite resolver o enigma. Assim também o cinema age como cego quando se debruça a analisar a violência, por prender-se ao detalhe em vez de contextualizar e fazer uma crítica mais abrangente. É o que se propõe Gus Van Sant."

 

Mas, apesar de tudo, confesso que não quero vê-lo nunca mais. "O horror, o horror...."

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