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Sábado, 12 Fevereiro 2011

Paraty

Paraty, no réveillon

14:39 Escrito por fiume em Fotografia, Viagem | Permalink | Comentários (0) | Tags: fotografia, viagem | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook | |  Imprimir

Segunda, 28 Junho 2010

Brasil x Chile, 1998

Na época da Copa da França eu estava no Peru. Cheguei a perder um jogo da seleção, contra a Suécia, na primeira fase. Bem no dia do jogo Brasil x Chile, eu estava em Machu Picchu. Ia perder esse também, pois voltaria de trem para Cuzco no horário. Daí que meu irmão apareceu com uma ideia: tomar um helicóptero.

Pagamos, sei lá, um US$ 100, algo assim, e embarcamos no maior e mais velho helicóptero que vi na vida. Acho que cabiam umas 20 ou mais pessoas no aparelho. Parecia um helicóptero para transportar carga —provavelmente era.

Apesar do receio daquela lataria, a viagem foi tranquila e podemos ver, do alto, Machu Picchu, outras ruínas incas e as grandes montanhas. Visão muito bacana. Quando pousamos no aeroporto de Cuzco e entramos no saguão, uma surpresa. Não havia ninguém, repito, ninguém. Nadinha. O jogo já havia começado.

Começamos então a procurar desesperadamente uma TV. Mas não encontrávamos nenhuma viv'alma. Nada. Até que vimos uma luz fraca saindo de uma porta semifechada lá no fundo do saguão. Em cima da porta estava escrito: "Aduana".

Batemos à porta e vimos dois funcionários assistindo ao jogo numa pequena TV. Após explicarmos que éramos brasileiros desesperados, fomos imensamente bem recebidos, com largos sorrisos, e convidados a permanecer.

E foi ali, sentado no chão de uma pequena sala da alfândega de Cuzco, que vi o Brasil bater o Chile por 4x1.

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Sexta, 07 Maio 2010

Pirenópolis

19:26 Escrito por fiume em Fotografia, Viagem | Permalink | Comentários (0) | Tags: fotografia, viagem | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook | |  Imprimir

Sexta, 30 Abril 2010

Jericoacoara

Jericoacoara

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Sábado, 16 Janeiro 2010

Raio

 

Praia de Juquehy, 10jan2010

21:01 Escrito por fiume em Fotografia, Viagem | Permalink | Comentários (0) | Tags: fotografia, viagem | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook | |  Imprimir

Quarta, 30 Dezembro 2009

Vovó

NYC, abril de 2009

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Terça, 22 Setembro 2009

Cantora

 

Praia do Forte, Bahia, no domingo
[foi o único salto; confesso que fiquei sem palavras... 40 toneladas]

 

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Segunda, 17 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 13

Penedo, Alagoas
Terça-feira, 17 de agosto de 1999

Chegamos ao fim da jornada. Ontem, enfim. Foi com alegria que testemunhamos o São Francisco se encontrar com o mar, numa confusão em forma de um imenso triângulo.

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De carro, fomos a Piaçabuçu, cerca de 30 quilômetros de Penedo e 15 da foz. Alugamos um barco e seguimos descendo o que havia sobrado do rio. Foram 50 minutos até a parada ao lado de uma lagoa, já no delta.

A foz do São Francisco é belíssima. Assustadora. Abre-se um enorme triângulo e já fica difícil saber o que é rio, o que é mar. Pequenas ondas seguem por toda parte, numa agitação contínua. A água é ligeiramente salgada, apenas.
Na areia, há pedaços de troncos de coqueiros e outras árvores, cocos, folhas e toda sorte de coisas trazidas pelo rio, como produtos industrializados – o corpo plástico de uma boneca, por exemplo. De costas para o rio, tem-se a impressão que se formou um grande deserto de areia e entulhos após a passagem de um furacão.

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É uma área de proteção ambiental. A pouca presença humana são alguns pescadores, em jangadas ou na praia da foz. Do lado de Sergipe, um farol aponta solitário o que já é mar, rente ao rio. É o que resta de um povoado, contou Arthur, o barqueiro que nos conduziu. Todo o povoado acabou encoberto pela areia, depois que o volume das águas na foz diminuiu pela ação do homem e as embarcações grandes, vindas do mar, deixaram de entrar no São Francisco. Os moradores abandonaram o povoado.

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A permanência na foz foi de mais ou menos três horas – apreciando a paisagem ou, simplesmente, saboreando a conclusão do percurso. No retorno a Piaçabuçu, Arthur parou o barco num banco de areia bem no meio do rio. Ficamos no centro do leito, vislumbrando por alguns instantes Alagoas, Sergipe, a foz, o mar e o interior do rio, quando o sol já começava a baixar na margem sergipana. Um cenário difícil de descrever...

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Indescritível, contudo, foi a sensação de cair nas águas da foz (até bem à vontade), depois dos dias de jornada. Todo o cansaço foi imediatamente esquecido, cedendo lugar a uma certa euforia. Havíamos concluído uma jornada de cerca de 3 mil quilômetros, pelo curso do rio, da nascente à foz.

Foi um boa aventura. Percorremos cerca de 3 mil quilômetros, dos quais apenas nos 531 entre Xique-Xique e Juazeiro não estive ao volante – ainda me restam mais ou menos 2,5 mil até Goiânia.

Gustavo foi um bom parceiro, apesar das muitas reclamações sobre muitas coisas – manteve coerência quanto a isso, como ele mesmo disse – e parecer demonstrar, com sua pressa de seguir sempre em frente, de chegar logo à foz, que o mais importante era cruzar todo rio – não conhecê-lo bem.

Não foi possível, naturalmente. Conhecer o São Francisco com profundidade nestes poucos dias. Mas pudemos ter uma noção. De como ele é importante para muitos e sobre o povo que vive às suas margens.

Alguns dos integrantes dessa população permanecerão, por razões boas ou ruins. Arthur, por exemplo. Foi estranho vê-lo com o filho. Arthur era o barqueiro que nos levou até a foz. Aparenta muito mais do que seus 42 anos. Tem os cabelos bem grisalhos e o rosto bronzeado e coberto de rugas. Seu filho, um adolescente alto, conduzia o barco, enquanto Arthur permanecia na proa. Comunicavam-se com olhares e sinais. Não se falavam. Permaneceram sempre um na proa e outro na popa. O garoto não disse uma palavra sequer. Foi inevitável tentar imaginar se conversam em alguma hora, em casa, e sobre o que falavam entre si.

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Arthur pertence a uma associação de barqueiros que levam visitantes à foz do rio, como explicou. A entidade paga imposto e luta contra os barqueiros clandestinos. No mundo moderno, todos se unem, se organizam e somam forças, até os banqueiros de um pequeno povoado de Alagoas às margens do São Francisco.

O rio é belo e imenso, cercado pela riqueza de alguns agricultores, pela miséria de outros e da maior parte da população que vive às suas margens. Estranho imaginar como seria quando Américo Vespúcio o desbravou – foi o navegador italiano quem o "descobriu", em 4 de outubro de 1501, dia de São Francisco de Assis – ou mesmo quando o francês Auguste de Saint-Hilaire encontrou sua nascente, no século passado. Hoje, é vítima constante das mãos humanas. Está assoreado em tantos trechos e tem tantas barragens que alteram o ecossistema e a vida das pessoas – Arthur contou que as barragens impedem que as cheias tragam material orgânico que serve como adubo para os arrozais nas ilhas nas proximidades da foz, razão pela qual o cultivo caiu drasticamente.

Estou agora em Pontal do Peba, praia quase deserta, em Alagoas, próxima da foz. Há apenas alguns pescadores e carros esporádicos que a usam como pista entre um povoado e outro. Gustavo partiu de manhã para Maceió, onde tomaria um vôo até Vitória. Fiquei mais um dia para descansar. Resolvi ver o mar.

Lembro-me da sensação que tive ao vê-lo no encontro com rio. E se continuássemos? Isso faz toda a jornada dos últimos dias parecer tão pequena...

Foi um sentimento tolo, naturalmente. Mas compreensível. Explico. O homem um dia olhou para o mar e decidiu seguir em frente, não foi? Depois, fez o mesmo com céu. E ainda continua...

Mas minha jornada chegou ao fim. Foram quase 100 cidades no percurso, cruzando cinco Estados da nascente à foz em 15 dias – hoje seria o 16º.

Aqui termina a minha pequena aventura na trilha de um velho rio – o maior totalmente brasileiro. Talvez, algum dia, algum parente futuro encontre esses escritos num canto qualquer. Se disser que teve um antepassado meio maluco, ficarei feliz.

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Sábado, 15 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 12

Penedo, Alagoas
Domingo, 15 de agosto de 1999

Não foi hoje que concluímos o percurso. Chegamos a Penedo à tarde e adiamos a ida à foz para amanhã. A cidade está um pouco mais distante do mar do que eu supunha.

Saímos cedo de Piranhas. Seguimos com tranqüilidade e paramos nas cidades à margem do rio para olhar: Porto da Folha, Guararu, Propriá. Fomos seguindo pelo lado de Sergipe até Propriá, quando cruzamos a ponte até Alagoas, já perto de Penedo.

Foi interessante ver como a paisagem mudou a partir de Piranhas. Desde que entramos no norte de Minas e no Nordeste, o cenário foi quase sempre de seca. A partir de Piranhas, no entanto, o verde foi aparecendo e mesmo o clima na estrada ficou mais ameno – à sombra, pois o sol continua castigante. Toda a paisagem tornou-se um grande vale verde, repleto de fazendas e plantações. O sertão ficava para trás.

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Em Penedo, o São Francisco é largo e começa a ter uma coloração também azul, além do verde. A cidade é também mais bonita do que eu supunha. É feita de puro barroco, em ruas, casas, praças, igrejas. Há várias igrejas, todas belas. Chegamos a acompanhar uma procissão em louvor a Santo Antônio, que partiu de uma igreja pequenina. Abrindo alas para o santo ou seguindo-o, gente bem simples, que parecia ter acabado de sair do banho e vestido suas roupas mais novas. Crianças fantasiadas de anjos, outras de frades e uma banda de adolescentes; velhas senhoras de cabelos presos, a seguir o grupo pelas ruas de pedra sob o sol intenso do meio da tarde.

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Chegamos ao fim da segunda semana de viagem. Parece bem mais! Passamos por tantos lugares, vimos tantas pessoas e a paisagem já mudou tanto que é como se estivéssemos na estrada há mais tempo. A Serra da Canastra, onde o percurso foi iniciado, parece bem mais distante, no relógio ou no mapa.

Amanhã tudo termina. Espero... Iremos de carro até um povoado vizinho, Piaçabuçu. Pretendemos alugar um barco de pesca que nos leve ao mar, pelo rio.


PS: 1. Só para registrar, sonhei que minha avó havia morrido. Eu e minha mãe subimos não sei por que no terraço de um edifício. Ela nos seguiu. Parecia cega. Caiu. Tentei impedir que ela chegasse à beira. Não pude olhar para baixo, para vê-la. Minha mãe olhou. Eu chorava muito.

2. Gustavo está preocupado. Cecília o pressiona para voltar.

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Sexta, 14 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 11

Piranhas, Alagoas
Sábado, 14 de agosto de 1999

Piranhas é realmente uma cidadezinha bem interessante. É uma das paradas das quais mais me lembrarei. Gostei muito de suas casas antigas e a bela vista do rio – a mais bonita até agora. Descobri mais algumas informações sobre a cidade numa reportagem exposta na parede da pousada.

Piranhas foi fundada no século 18, como arraial. Começou com pescadores. Segundo a lenda, um deles pescou uma grande piranha e, ao chegar em casa, notou que havia esquecido o cutelo. Disse ao filho que fosse ao "porto da piranha" buscá-lo. O nome ficou.

Sua arquitetura é belíssima. Há várias pequenas casas coloniais, cercadas por ruas de calçamento de pedras. Uma pequena travessia para o passado. Não pude visitar a igreja principal do povoado – Nossa Senhora da Saúde -, pois estava fechada. Data do início do século 19.

Por um bom tempo, Piranhas viveu em torno da estação ferroviária. Era entreposto que distribuía mercadorias vindas da Bahia para as cidades da região. O prédio da estação foi concluído em 1881. Foi autorizado por D. Pedro I em 1854, quando ele estava de passagem rumo a Paulo Afonso. O prédio hoje abriga o Museu do Sertão, que exibe vários objetos de uso corrente do sertanejo e muitas fotos sobre o cangaceiro Lampião, o rei, que foi morto bem perto, embora do outro lado do rio, em Angicos, Sergipe. A cidade foi bem marcada pelo cangaço.

De manhã, tomamos o barco alugado de um pescador, Zé da Marina (sua mãe), até a Praia de Angicos, no município sergipano de Poço Redondo. O local fica em direção à foz. Da praia, seguimos por uma trilha, guiados por Francisco, um garoto magro de uns 13 anos que trabalha como guia-mirim. Cruzamos o lugar, entre mandacarus e caatingas, até a grota onde Lampião, Maria Bonita e seu bando foram executados numa emboscada. A trilha, de aproximadamente 750 metros, foi a que os volantes abriram em 1938 para a emboscada. O rei do cangaço foi morto em 28 de agosto daquele ano.

Francisco – ou Tico, como sua família o chama – contava os fatos da emboscada e um pouco sobre a história de Lampião. Falava com um certo orgulho, ou talvez esta não seja a palavra certa. Gustavo lhe perguntou se considerava o cangaceiro um bandido ou um herói. Para ele, Lampião era um pouco dos dois. Apesar de roubar muitas cidades, ele daria parte do que tirava dos ricos para os pobres, numa espécie de Robin Hood do sertão. Será?

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Foi uma experiência inesperada visitar da Grota de Angico. Para um nativo do distante Goiás, sinto, Lampião, Maria Bonita e todo o cangaço soam como algo imensamente longínquo, presente na cultura popular e nos livros de história. Nem sabia que o local da emboscada ficava tão perto do São Francisco. Imaginava que tivesse ocorrido no meio do sertão desértico.

Depois de Angico, voltamos a Piranhas e passeamos a pé pelas ruas estreitas num relevo sempre irregular. No barco, ainda a caminho da cidade, notei uma pequena igreja erguida na margem sergipana, em frente de Piranhas. Perguntei a Zé da Marina o que era. Ele nos contou a história, que soa como uma lenda trágica. Costumava ouvi-la de seus avós.

>Havia uma moça que morava com sua família na margem do rio. Noiva, havia se envolvido com outro homem. Decidira então fugir com ele. Marcou de encontrá-lo num morro próximo da margem. O noivo preterido, contudo, foi avisado e partiu ao encontro dela. A moça ainda esperava o amante quando o noivo surgiu. Tentou fugir e acabou morta. A capela foi erguida em sua homenagem no local do assassinato.

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À tarde, fomos à represa da hidrelétrica de Xingó, em Canindé do São Francisco, na margem sergipana. Tomamos um catamarã. Foi um passeio bem (até demais) turístico. Achávamos que iríamos seguir rio acima (o que realmente foi verdade) para ver o canyon até perto da Usina de Paulo Afonso. Ficamos, contudo, apenas no lago de Xingó.

PS: Continuo cansado. Ainda tenho aquele meio desejo de concluir logo a viagem. Mas isso pode esperar. É preciso paciência. A expectativa para amanhã é grande. Iremos a Penedo e atingiremos a foz, o ponto final de nossa jornada.

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Quinta, 13 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 10

Piranhas, Alagoas
Sexta-feira, 13 de agosto de 1999

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Estou no alto de um morro em Piranhas, uma pequena e bonita cidade de Alagoas. Gustavo dorme na pousada. O sol já se escondeu atrás de um morro. Vislumbro as águas verdes do São Francisco correrem em meio a pedras, entre morros. Visão magnífica!

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(Neste morro há um monumento do povo do século 19 ao povo do século 20. Tive de subir 364 degraus até aqui.)

Decidimos deixar Paulo Afonso ainda de manhã. O plano era que passássemos a noite lá, pois estamos cansados. Mas depois do programa na Usina de Paulo Afonso, que terminou cedo (umas 10 horas), resolvemos seguir em frente.

Estou cansado. Fiquei resfriado e um pouco desidratado. Pela primeira vez na viagem, senti vontade que ela terminasse logo ou que parássemos um pouco. Mas já estamos muito próximos da foz. Logo poderei descansar.

A visita à Usina de Paulo Afonso foi boa. Curta, mas suficiente. Percorremos com o guia (como exigido) boa parte das instalações. Pudemos ver o canyon belíssimo formado pelo rio na região. É bem grande. Também pudemos ver a Usina de Delmiro Gouveia, de que já havia lido nos livros de história. É pequenina. Mas não para 1910, quando foi construída pelo dono de uma tecelagem, que acabou assassinado, provavelmente por ingleses que queriam se livrar da concorrência – a segunda versão é que Gouveia morreu a mando de coronéis por questões econômicas e políticas. Foi um pioneiro.

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Seguimos de carro rumo a Canindé do São Francisco, em Sergipe, que pensávamos ficar à margem do rio. Há, porém, apenas uma cidade operária abandonada. Por causa da Usina de Xingó, Canindé foi transferida para um lugar mais alto. No percurso, vimos a Hidrelétrica de Xingó e sua represa.

Chegamos então a Piranhas. É uma cidadezinha fincada na margem alagoana do rio, entre morros. Tem casas coloniais, construções antigas e uma pequena praia, cheia de bares.

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É bem tranqüila. Daqui do morro, ouço as vozes distantes das pessoas conversando, o barulho dos poucos carros existentes, o piado distante de pássaros, os cachorros latindo, os grilos... Já é noite.

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Quarta, 12 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 9

Paulo Afonso, Bahia
Quinta-feira, 12 de agosto de 1999

Alugamos um carro em Petrolina (aumentei meu prejuízo) e partimos. Passamos rapidamente por algumas pequenas cidades às margens do rio. Gustavo estava com bastante receio do trecho da estrada até Cabrobó, em Pernambuco, conhecido pelo índice alto de assaltos. Mas não houve problemas. Fizemos o trajeto durante a manhã. Estávamos no famoso Polígono da Maconha.

Após pararmos rapidamente em Santa Maria da Boa Vista e Orocó, chegamos a Cabrobó, cidade conhecida pelo plantio de maconha. Entramos na cidade para chegar até o rio. Chegamos a uma pequena e estreita ponte que cruzava um braço do São Francisco até uma ilha, tão grande que não parecia que do outro lado haveria o outro braço. Só havia espaço para um carro na ponte, de tão estranhamente estreita.

Seguimos pela ponte para tirar algumas fotos (um grupo de lavadeiras na margem e o que parecia um acampamento de sem-teto, na ilha). Do outro lado da ponte havia um portão. Ficamos curiosos, mas decidimos voltar de ré para prosseguir a viagem. Por azar, um caminhão, porém, havia entrado também na ponte. O jeito foi seguir com o carro até o tal portão. Havia dois homens que controlavam a entrada.

Pedimos para entrar por alguns instantes, apenas para fazer a manobra de retorno. Mas a dupla não concordou. Disse que não era possível. Apenas o "chefe" poderia autorizar a entrada e ele havia saído. Foi incrível e inacreditavelmente ridícula a situação. Estávamos presos, com uma grade à frente e um caminhão atrás.

Na entrada do local havia uma placa: Fundação Nacional do Índio – FNI. Ainda não conseguimos entender o que se passou. Não eram índios os homens que controlavam o portão nem os que estavam nos caminhões (havia outros atrás do primeiro) nem o grupo de pessoas que vimos um pouco mais longe, dentro do lugar. Também estranha era a sigla FNI, em vez de Funai.

Insistimos com a dupla de porteiros, sem sucesso. Gustavo tentou conversar com o motorista do caminhão. Sem resultados.

Apareceu então um sujeito jovem, de uns 25 anos. Talvez fosse o "chefe", não sei. Da janela do carro, expliquei que queríamos apenas fazer a manobra. Ele se aproximou do carro, na janela do motorista (eu, no caso), fazendo questão de mostrar o volume que havia em sua cintura, por baixo da camisa. Expliquei novamente o que pretendíamos, enquanto ele dava um rápida olhada no interior do veículo.

Fomos então autorizados a entrar. Fiz a manobra com o carro, pretendendo deixar logo o lugar. Mas um dos caminhões que esperavam na ponte pifou. O motorista não conseguia fazer o motor pegar. Eu mantinha motor ligado, a marcha engatada, pronto para partir. Foi preciso que o caminhão fosse empurrado. Esperamos que todos os veículos passassem pelo portão e conseguimos partir.

Foi uma situação realmente estranha. Ainda não sei bem o que aconteceu nem quem eram aquelas pessoas.

Seguimos então a viagem, margeando o São Francisco por Pernambuco, até o município de Floresta. A partir dali, a estrada tornou-se horrorosa. O asfalto simplesmente desapareceu. Foram 65 quilômetros de buracos, o que nos custou aproximadamente duas horas até Petrolândia.

Próximo da cidade, já avistávamos o lago imenso da barragem de Paulo Afonso. A partir dali, vimos imagens belíssimas, com o sol já baixo.

Petrolândia não parecia ser uma cidade rica nem grande, mas tinha uma orla no lago bem feita e bonita.

Continuamos o percurso rumo a Paulo Afonso. Por um pequeno erro do navegador (Gustavo), não seguimos para Glória, já de volta à Bahia, e entramos em Alagoas. Foi apenas um pequeno trecho no Estado, até cruzarmos o rio até a Bahia, chegando a Paulo Afonso.

A cidade é grande e parece ter sido planejada. Tem ruas largas e bem iluminadas. Espero que as bela imagens continuem surgindo.

PS: 1. Deixei o carro na concessionária em Juazeiro, solicitei a vistoria – de acordo com as instruções da seguradora. Solicitei urgência nos procedimentos e no conserto. Disse que estaria de volta em uma semana. E parti.

2. Perdi meus outros óculos escuros, os de supermercado.

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Terça, 11 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 8

Juazeiro, Bahia
Quarta-feira, 11 de agosto de 1999 (Dia do fim do mundo)

O fim do mundo foi tranqüilo em Juazeiro...

Hoje, finalmente navegamos pelo São Francisco. Contratamos um barqueiro e fizemos um passeio das 11 às 18 horas.

Fomos contra a correnteza, margeando o lado baiano do rio. O barco pequeno seguia devagar. Não tinha mais do que 5 metros e era bem estreito. Fomos observando lentamente a paisagem, muita vegetação, algumas praias, embarcações ancoradas e muitas ilhas no rio, que calculo tivesse mais ou menos 500 metros de largura.

Paramos numa destas ilhas, onde havia uma praia bonita, repleta de barracas. Estava semi-deserta e pudemos ficar tranqüilos a observar o rio. Tinha um nome curioso. Chamava-se Ilha do Rodeadouro. Não descobri por quê.

Navegar pelo São Francisco, mesmo nesta pequena embarcação, foi um experiência gostosa. A paisagem é bonita e pacífica.

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As águas verde-mar do imenso leito "encontram-se" com o céu, formando um cenário de cores irmãs. Havia um exército de nuvens gigantescas no céu, que ora escondia o sol, ora não, tocadas pelo vento forte numa marcha ritmada. Um horizonte verdadeiramente deslumbrante.

Depois de deixarmos a Ilha do Rodeadouro, seguimos um pouco mais adiante, sempre observando a paisagem, ora na margem baiana, ora na pernambucana, e sentindo o vento forte na pele.

Pedi a Antônio, o barqueiro, que prosseguíssemos até um ponto em que poderíamos voltar e ainda assistir ao pôr-do-sol no barco. O sol deixa um imenso reflexo nas águas verdes do rio. Tirei muitas fotos. Espero que algumas tenham ficado boas.

Chegamos de volta a Juazeiro quando a noite já vencia o dia. Gustavo adorou o passeio. Tomou inúmeros banhos no rio e disse que estava tendo um dia de férias comme il fault.

À noite, depois de passarmos pelo hotel, cruzamos a pé a longa ponte até Petrolina. Ainda não havíamos estado em Pernambuco. Ficamos pouco tempo na cidade, mas é certamente mais avançada que Juazeiro. Tem mais movimento na orla, embora a de Juazeiro seja mais bonita, talvez pelo fato de o calçadão estar mais próximo do rio.

Petrolina tem alguns poucos edifícios de apartamentos (se é que isto é indicador de desenvolvimento). Um fato curioso foi o trânsito, bastante organizado e bem sinalizado. Motoristas e pedestres são educados. Fiquei surpreso ao notar que os veículos paravam assim que o pedestre punha o pé na faixa para cruzar a via.

Apesar de Juazeiro e Petrolina serem mais desenvolvidas que as cidades que havíamos percorrido antes, como Januária e Bom Jesus, preferiria estar em cidades como estas últimas. Nelas, havia pequenas coisas que considerei mais ricas culturalmente, embora isso possa parecer uma defesa da miséria. Não é. Não vi em Juazeiro casas coloridas e pequeninas como as de Januária, nem achei aqui personagens como Judite (ou Xuxa!), que vestiu seu bonito vestido branco só para que eu a fotografasse.

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(Ela ainda me perguntou se ia aparecer na televisão por causa disso. Quando respondi que não e expliquei que levaria a foto dela para São Paulo, ela sorriu e disse: "Então o povo de São Paulo vai me ver, ora!")

Também não achei aqui pessoas como o lavrador José, cuja carona me fez sentir bem (será que seu filho se recuperou?) ou o velho bêbado que fotografei em Januária e dizia que iria comprar uma escopeta para matar um sujeito que queria fazer sexo com ele (bem, ele contou isso usando outras palavras...) ou as muitas pessoas que, ao me ver com o equipamento fotográfico, pediam que eu tirasse uma foto delas (Foi divertido. Era noite, eu usava o tripé. Pedia a todos que se juntassem e fizessem "pose". Eles enrigessiam corpo, deixando-o ereto e sorriam). Nem a velha de olhos caídos que em sua prece, em Bom Jesus, se lembrou nas três vezes de pedir pelo Brasil.

Achei-os personagens mais ricos que os que encontrei aqui. O barqueiro Antônio, por exemplo, pouco pôde nos contar. Só temo que estas afirmações possam soar como pregação da pobreza. Não são.


PS: 1. Gustavo fez um comentário de certa forma sarcástico sobre o acidente com o burro. Soou como uma insinuação sobre minha responsabilidade. Não é que não esteja certo. Gustavo iniciou uma road trip com a carteira de habilitação vencida há três anos. O aviso foi feito dentro do carro.

2. O carro permanece na concessionária. Solicitei de manhã, antes das 10 horas, um orçamento. Depois de insistentes ligações, às 18 horas ainda não estava pronto. Mau sinal....

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Segunda, 10 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 7

Juazeiro, Bahia
Terça-feira, 10 de agosto de 1999 (véspera do fim do mundo)

Matei um burro ontem na estrada. Foi o pior dos acontecimentos. Foi muito, muito rápido. Havíamos cruzado o São Francisco em Barra, depois de deixarmos Bom Jesus da Lapa. O motorista de um ônibus que cruzava o rio conosco na balsa e tinha puxado conversa já havia nos alertado sobre a presença de animais na pista até Xique-Xique.

Eu estava atento à luz de um veículo distante à nossa frente quando o animal "subiu" no capô do carro. Foi lançado longe. Eram mais ou menos 19h30. Gustavo chegou a me avisar. Ele viu o bicho primeiro. Eu disse: "Onde?" E foi só.

Foi tudo muito assustador. Gostaria de ter tido mais calma nos instantes a seguir. Nem bem olhamos as avarias, seguimos em frente.

Gustavo ficou extremamente assustado. Gritava que fôssemos embora logo. Temia que fôssemos abordados ali sozinhos na estrada. Isso nem passou pela minha cabeça. E se tivesse ocorrido com uma pessoa. É preciso calma nestas situações...

É preciso ter calma em qualquer tipo de acidente. Gostaria de ter avaliado a avaria do carro e dado uma olhada no bicho.

Quando vi o burro, milésimos de segundo antes da colisão, tive Rogério na mente. Me lembrei só dele, não do que lhe havia acontecido. Talvez por isso não tenha tentado desviar o carro do bicho.

[Há uns três anos, Rogério capotou o carro na estrada indo de Goiânia para Brasília ao desviar de um cachorro. Perda total do carro. Ele teve um arranhão na perna.]

O capô do carro ficou destruído. Um farol, o esquerdo, foi quebrado e a frente afundou, atingindo o radiador. Mesmo assim, ele rodou bem até Xique-Xique. Paramos num hotel e acionei o seguro.

Foi uma noite tensa. Gustavo ficou bem estressado. Não pôde comer direito.

Sou naturalmente o culpado pelo acidente. Confiei demais na minha "nova" visão. Aquele burro não deveria estar solto na beira da estrada; eu não deveria estar dirigindo à noite.

Foi uma sucessão de acontecimentos imprevistos. Logo de manhã, em Bom Jesus da Lapa, deixamos o carro para ser lavado. Não poderíamos prosseguir com toda aquela poeira dentro dele, por causa do "atolamento" do dia anterior. O conceito de lava-jato era bem diferente: o carro só ficaria pronto às 14 horas.

Fomos visitar a igreja no interior de uma gruta. É surpreendente. Não foram necessárias grandes adaptações. A gruta em si é um templo. Fica bem ao lado do São Francisco e é o grande palco de uma romaria anual, que perdemos por apenas dois dias de atraso, por desconhecimento.

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Os freqüentadores da igreja são na maioria romeiros. Gente pobre e castigada, que reza por uma vida melhor ou pede uma graça. Bastava prestar atenção às rezas para constatar isso.

Num calor altíssimo, subimos uma trilha de pedras até o alto do morro, onde havia uma cruz. Dali via-se toda a cidade e parte do rio. Atento às reações dos fiéis, notei uma mulher já idosa, muito magra e pequena. Se eu e Gustavo subimos a trilha sem facilidades, fiquei impressionado como ela estava ali. Coisas da fé...

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Ela me pediu fogo. Queria acender uma vela. Tinha a pele do rosto muito enrugada; os cabelos brancos presos atrás, mas ainda despenteados. Seus olhos eram avermelhados, como se estivessem irritados, e caídos. Estava na porta de um pequeno vão sob a cruz, onde havia a imagem de uma santa.

Depois de conseguir fósforos com outro romeiro, a velha ajoelhou-se sob a estátua, acendeu a vela com dificuldade – suas mãos tremiam – e fez sua prece. Com uma voz trêmula e estridente, pediu uma vida melhor para ela e sua família e "para todo o Brasil". Fez a prece três vezes.

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Fiquei de certa forma intrigado, tentado a imaginar como seria a prece de uma velha de classe econômica alta, uma pessoa rica e bem instruída. Será que ela também pediria por todos?

Enquanto eu e Gustavo descíamos o morro, nós a encontramos no meio do percurso. Falava sem parar com uma mulher jovem que carregava uma criança. Eu mal conseguia entender suas palavras apressadas.

Perguntei-lhe o nome e o porquê do pedido coletivo. Não pude entender muito. Em resumo, porque o País precisava.

Uma curiosidade sobre o alto do morro. Há uma pedra cinza claro que pode dizer se uma pessoa tem vida longa ou não. Basta bater com um pedra pequena nela. Se a pedra grande "tinir", na linguagem local, a pessoa viverá bastante. Se não "tinir", pode já ir para casa para encomendar "o pijama de madeira", como nos explicou o dono de uma barraca de refrigerantes.

Acabei me esquecendo de bater na pedra. Melhor assim. Depois de todos os pensamentos dos últimos tempos, já pensou se ela não tinisse?

Havíamos mudado os planos e decidido deixar Bom Jesus assim que o carro ficasse pronto. Partiríamos, assim, às 14 horas para Xique-Xique, em vez de permanecermos mais uma noite na cidade.

Gustavo reclamava o tempo todo de Bom Jesus. Dizia que a cidade era pobre e suja. A sujeira o aborrecia bastante. Havia lixo jogado por toda parte, talvez por causa da festa de dois dias antes.

A cidade não era muito diferente do que eu imaginava. Mas a miséria havia se acentuado ao máximo até este trecho da viagem.

Na parte comercial de Bom Jesus, perto da igreja da gruta, a cidade era uma grande feira de todos os tipos de bugigangas: eletrônicos do Paraguai, comida, chapéus, bonés de grandes marcas falsificados, roupas, peneiras, pratos, copos, etc. Quase todas as bancas ficavam na rua, próximas da calçada, apesar do trânsito desorganizado, repleto de muitas e muitas motos e bicicletas.

Fomos ao hotel arrumar nossas coisas e saímos para almoçar. Não achamos um restaurante decente como na noite anterior. Comemos mal.

Seguimos até o lava-jato, que não correspondia ao conceito, mas decidimos ver o rio até que o relógio se aproximasse mais das 14 horas. Em Bom Jesus, o São Francisco parece bem assoreado. Há bancos de areia, muita sujeira nas margens, carcaças de barcos, e o rio parece "vazio",

O carro não ficou pronto no horário combinado. O atraso foi de quase 1h30. Isso acabou fazendo que nossa viagem até Xique-Xique invadisse a noite...

Hoje de manhã, dia seguinte ao acidente, a seguradora enviou um guincho para levar o carro avariado e um táxi para nos levar a Juazeiro, a 500 quilômetros de Xique-Xique, terra quente que nem vimos direito.


PS: 1. Na véspera do fim do mundo, ouvimos no rádio uma curiosa entrevista com Nostradamus, com um pouco de sotaque nordestino, e a história de uma mãe que foi parar na cadeia porque deu uma grande surra na filha de 13 anos que cedeu aos argumentos do namorado de que deveriam fazer sexo, pois o mundo iria acabar mesmo.

2. Tive um sonho em que morava numa casa enorme, cheia de grandes janelas. Crisã também morava nela. Ventava muito e tínhamos de fechar as janelas, que batiam sem parar. Também começou a chover forte. Além de Crisã, Irene estava no sonho.

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Sábado, 08 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 6

Bom Jesus da Lapa, Bahia
Domingo, 8 de agosto de 1999

A miséria começa a ser cada vez mais constante. De São Roque até aqui, a diferença já é gritante. Na Canastra, encontramos gente simples que vivia da terra ou do turismo. A cada parada mais ao norte, a pobreza se acentuava. O norte de Minas é uma região pobre como já havia ouvido falar. Mas ao aproximarmos mais da Bahia, as diferenças foram saltando aos olhos.

Entramos na Bahia por Carinhanha depois de um dia difícil. Pedimos informações a um sujeito sobre como pegar a rodovia para Bom Jesus. Ele nos pediu carona. Depois dos acontecimentos da tarde, mesmo temendo cometer um deslize, concordei em levá-lo até um posto, como pedira, no início da estrada. Não consegui entender direito o que ele falava. Era analfabeto, acredito, e parecia estar embriagado, segundo Gustavo. Deixamos o sujeito no local combinado. Me senti aliviado. Quando ele saiu do carro, um homem já de idade (ou aparentemente) nos pediu carona. Depois do "embriagado", relutei em aceitar. Tenho certeza que Gustavo sentiu o mesmo.

Novamente pensei ainda estar em débito e concordei em levá-lo até Feirinha, um povoado a cerca de 40 quilômetros dali. O sol já se punha. Foi um bom acerto. Ao aceitar o pedido de carona, procurei compensar a ajuda que tinha recebido à tarde.

José contou-nos que era agricultor e havia sido assentado num terreno do Incra. Vivia de plantar milho e feijão com a família. Era pequenino e seu corpo era extremamente magro. Tinha o rosto queimado de sol e coberto de rugas profundas. Carregava um saco plástico com três pães do tipo para cachorro-quente.

Sua instrução educacional devia ser mínima ou nenhuma. Ele falava como os lavradores ou os retirantes que sempre aparecem nos telejornais. Vestia-se também como o estereótipo do homem rude do campo: camisa com alguma estampa, calça de tecido, sapato e um chapéu pequeno, que pouco poderia esconder seu rosto do sol.

José disse que – e a família, naturalmente – sofreu bastante com a seca do ano passado. E este ano já havia perdido tudo o que plantara, pelo mesmo motivo. Havia tomado financiamento num banco público – não me lembro qual. Estava endividado e não sabia como iria pagar o empréstimo.

Precisava ir a Feirinha, ou melhor, um lugar próximo dali para pegar uma guia ou um documento para entregar ao hospital em que seu filho estava internado. O garoto de 10 anos havia quebrado a perna.

O pai contou que há uns 20 dias o menino esteve bastante doente, com catapora. Imagino que nas condições em que a família vive, mesmo a catapora deve ser uma doença de risco. Mas ele acabou se recuperando. Ainda fraco, resolveu brincar em algum lugar – os adultos estavam trabalhando – e acabou machucando o pé. A família não deu tanta importância ao ferimento. Com o tempo, contudo, o pé do menino inchou, ele passou a ter febre alta, não consegui pisar, pôr o pé no chão.

A explicação do lavrador para este aparente "descaso" foi triste: "Nois é pobre." Segundo ele, a família acaba não dando a importância devida a problemas de saúde, esperando sejam resolvidos com o tempo – por Deus, imagino -, por problemas financeiros.

Só quando o garoto ficou com o pé bem inchado e chorava, ele o levou "no lombo de um animal" até Feirinha, em busca de atendimento médico. Uma chapa no hospital público constatou que o pé estava quebrado. O menino acabou internado em Carinhanha.

Deixamos José a aproximadamente um quilômetro ä frente de Feirinha. Era noite e ela ainda seguiria a pé por uma estrada de terra mais uns quatro quilômetros, segundo disse. Só pudemos desejar que tivesse sorte...

Foi um dia complicado. Chegamos a Bom Jesus por volta das 19h30 depois de um dia de viagem. Percorremos cerca de 150 quilômetros desde Carinhanha à noite numa estrada asfaltada, mas sem faixas marcadas e com sinalização bastante precária. Não podíamos ficar em Carinhanha, uma cidade onde não havia nada (como disse Simões [Edu Simões], um fotógrafo de São Paulo que encontramos na beira do rio e percorria o trecho de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas).

Saímos de Januária por volta das 9 horas. Fomos até Brejo do Amparo, um vilarejo a uns cinco quilômetros dali. Buscávamos uma igreja construída por jesuítas em 1688.

É bastante bonita. Está "solta" no meio do nada. Há uma reforma, mas ela parece ter sido interrompida. Conseguimos entrar por uma porta lateral. A nave tem pinturas e o altar feito de madeira está vazio. Há material para obras espalhado por toda parte. Bem ao lado da igreja, existe um cemitério, com inscrições repletas de erros de ortografia.

Para chegar até a igreja é preciso passar Brejo do Amparo e percorrer um pequeno trecho de chão. Foi preciso perguntar em toda parte que passávamos para encontrá-la.

De volta a Brejo, paramos numa venda em busca de uma cachaça da qual já havíamos ouvido falar. Até o pai de Gustavo havia comentado com ele por telefone. Enquanto comprávamos a bebida, que o senhor da venda colocou em duas garrafas de Cinzano, uma mulher e um homem, ambos negros, entraram. Apressada, a mulher chamou pelo vendedor. Foi incisiva e pouco educada. Eu disse a ele que a atendesse, enquanto eu colocava as garrafas em sacos plásticos. Ela havia lhe pedido "a dela". O vendedor encheu um copo comum (esqueci o nome daquele copozinho de vidro mais comum) até a boca. A mulher o pegou e de um gole só tomou mais da metade do conteúdo. E partiu, enquanto o homem que a acompanhava reclamava que ela havia deixado pouca cachaça no copo.

De Brejo do Amparo, tomamos a estrada de volta a Januária. Pegamos outra até Itacarambi – uns 30 quilômetros.

Seguimos então por uma estrada de terra rumo a Carinhanha, na Bahia. Engraçado é que toda vez que falávamos algo de bom sobre a estrada ("não está tão ruim") ela piorava. Apesar disso, correu tudo bem (e lentamente) até Manga, um vilarejo isolado na margem oeste do São Francisco onde tivemos certa dificuldade para encontrar Coca-Cola. Foi algo em torno de 40 quilômetros até lá. Restavam mais ou menos 60 até Carinhanha.

A estrada de terra foi só piorando. Durante um bom tempo, sempre havia gado e casebres no caminho. Até que tudo ficou deserto. A estrada ficou tão estreita que apenas um carro poderia passar (embora não tenhamos visto nenhum outro). Havia apenas vegetação e a estrada estreita.

Ficávamos sempre de olho no marcador de quilometragem para ver se nos aproximávamos dos 60 quilômetros. Mas na velocidade que estávamos a marca parecia sempre distante.

Depois de muitos minutos (não sei quantos ao certo, uma hora talvez) passamos a temer estar perdidos. Talvez tivéssemos pego uma bifurcação errada, embora tivéssemos sempre percorrido o percurso principal. Mas sabe-se lá... Eu prestava bastante atenção na temperatura do motor. Fazia um calor infernal. O sol das 13 horas estava muito forte. A toda hora a ventilação do motor era acionada.

Por fim, para nossa alegria, chegamos a um povoado. Foi com alívio que recebemos a notícia de que estávamos mesmo na direção de Carinhanha e a balsa que nos faria cruzar o rio de mesmo nome, que faz divisa entre Minas e Bahia, estava próxima.

Seguimos as indicações do pessoal do povoado e chegamos a uma estrada de terra em condições precaríssimas. A terra parecia areia, de tão fofa. Mesmo em baixa velocidade, o carro "jogava" para o lado o tempo inteiro. Temi prosseguir e retornamos ao lugarejo para obter orientações mais detalhadas.

O mesmo sujeito a quem havíamos perguntado anteriormente disse que estávamos no caminho certo e bem perto da balsa, não deveríamos ter voltado. Eu reclamei da estrada e ele afirmou que era assim mesmo e dava para passar, carros pequenos sempre cruzavam o lugar. Retomamos o percurso.

Logo que vimos as marcas dos pneus onde fizemos a manobra para voltar, a terra foi ficando mais e mais fofa. Assim que passamos uma árvore bem no meio do trajeto, perdi o controle do carro na areia seca e paramos atolados. Foi desolador. Estávamos felizes porque o trecho de terra já estava bem perto do fim.

Não consegui ir para frente nem para trás. A roda dianteira esquerda rodava e rodava, jogando areia para todos os lados. Tentamos empurrar, colocar pedras para aumentar a tração, mas não conseguimos tirar o carro dali. Decidimos que Gustavo iria a pé até a balsa, que estaria perto, imaginávamos. Continuei tentando tirar o carro.

Foram cerca de três horas ali sozinho. Durante esse tempo nada aconteceu. Havia apenas o som dos muitos pássaros da mata, que a toda hora passavam voando sobre a estrada. Me senti no meio do nada.

Tentei como pude desatolar o carro. Cavei, enfiei pedras e pedaços de galhos. Deitei no chão embaixo do carro para poder cavar melhor e feri meus dedos na terra.

O sol estava horrível. A poeira invadiu todo o carro (não me preocupei muito em não me sujar e acabei sujando também o interior do carro).

Acabei desistindo. Estava preocupado com Gustavo. Só depois ele me contou que chegou até o local da balsa (não tão perto como o homem havia dito), que não estava lá. Pediu ajuda a um rapaz que estava do outro lado do rio.

Não sei direito, vou perguntar melhor a Gustavo (ele está dormindo agora), mas ele foi parar do outro lado, tentou ajuda, mas ninguém quis ajudá-lo. Ele disse ter ficado bem angustiado com essa situação.

Cheguei de carro ao Rio Carinhanha no exato momento em que Gustavo chegava na balsa ao trecho de Minas. Entrou no carro e, aliviados, nos dirigimos para cima da balsa. Acho que a foto da travessia deve mostrar a nossa situação.

Antes disso, depois das três horas solitárias na estrada e das várias tentativas fracassadas, decidi procurar Gustavo. Primeiro, comecei a andar na estrada apenas para ver se dava para avistar o local da balsa. Não dava. Pensei em prosseguir, mas havia deixado o carro aberto. Voltei, fechei tudo e comecei a caminhada. Uns 200 metros adiante, notei o sol já baixo (eram umas 17 horas) e me lembrei da lanterna no porta-luvas. Voltei novamente ao carro, peguei a lanterna e também a bússola (!?). Retomei a caminhada. Mais ou menos no mesmo ponto anterior (uns 200 metros), ouvi um barulho atrás de mim que parecia o de um motor. Vi poeira levantada na estrada, ainda longe, e comecei a correr até o carro.

Cheguei assim que o caminhão apareceu. Solicitei que parasse e pedi ajuda ao motorista. Ele disse que não tinha uma corda para puxar o carro, mas havia muita gente no caminhão. Ele os chamou e desceram mais seis homens que ergueram a frente do carro e o empurraram enquanto eu dava ré. Finalmente o carro estava livre.

Agradeci a todos. Eram pessoas simples que falavam errado: "Sozinho é pobrema, né moço?"

Decidi seguir o caminhão, que também tinha lá suas dificuldades com a terra fofa. Mas a nuvem de poeira que ele deixava era tamanha que eu não conseguia enxergar a estrada. Fui deixando que ele se distanciasse.

Não é que o carro parou de novo na areia? Motorista de cidade na estrada de chão....

Vi com agonia o caminhão seguir em frente, encaixei a ré e consegui sair. Não podia deixar isso acontecer de novo. O jeito foi não me importar muito com carro. Comecei a seguir, pus a segunda marcha, mantive o giro do motor sempre em alta e fiz um pequeno rali, jogando poeira para todo lado e tentando manter o volante sob controle até chegar ao local da balsa.


PS: Achei meu boné.

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Sexta, 07 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 5

Januária, Minas
Sábado, 7 de agosto de 1999

Pouco acontece em Januária, "a cidade que mais cresce na região", conforme a placa de entrada. Estou sentado em um banco de praça há mais ou menos meia hora. Passaram três carros e muitas bicicletas.

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Três crianças brincam com uma enorme bola azul, um homem negro reflete solitário em outro banco, dois homens de bicicleta conversam apoiados no meio-fio (um deles carrega uma criança no cano). Enquanto isso, o sol se põe às minhas costas, escondido atrás de uma das duas sorveterias que "movimentam" a praça neste sábado.

Hora do rush! Mais cinco carros passaram e inúmeras bicicletas. Começa também a crescer o fluxo de pessoas na praça. Oito até agora.

Vim à praça para fugir do bar em frente do hotel. Januária parece ser a terra da música alta. Por onde fomos havia sempre um enorme alto-falante a despejar a potência das FMs em nossos ouvidos. Ainda aqui, em meio ao barulho dos pássaros, ouve-se ao longe o som de alguma delas, vindo sabe-se lá de onde.

Na praça, o carro da polícia serve de encosto para o policial militar de uniforme cáqui e o táxi permanece com os vidros abertos enquanto o taxista está "desaparecido".

Não é bem uma praça bonita, mas está longe de ser feia ou malcuidada. Há uma horrível construção de concreto, pintada de branco, no meio da fonte, e os bancos trazem "o oferecimento do vereador...", além da publicidade do comércio.

De manhã, saímos do hotel precário em que estamos (preciso me esquecer daquele carrapato) e fomos fotografar o rio uns 15 quilômetros antes da cidade. Havíamos cruzado a ponte de mais de 1 quilômetro sobre este trecho ontem à noite, mas pouco pudemos ver.

Depois, fomos à praia.

Parece uma mistura do Araguaia com uma praia de mar. Há boa infra-estrutura: bares com rancho, barqueiros, salva-vidas, campo de futebol, placas de advertência, estacionamento, etc., além de insuportáveis e gritantes alto-falantes. A população que freqüenta a praia de Januária está longe de ser de classe econômica mais favorecida, mas não há pobreza extrema.

Fiquei apenas observando o local, sob o rancho fresco de um bar. O calor no começo da tarde era insuportável.

(Aqui na praça, com a escuridão já se formando, noto que pela primeira vez há nuvens, imensas, no céu, desde que começamos a viagem. Será que chegaremos a pegar chuva no percurso?)

Na praia, não cheguei até a água. O sol estava muito forte. Gustavo experimentou pela primeira vez na vida uma praia de rio. Estranhou deixar a água sem sentir o sal na pele. Até que deve ter sido uma experiência interessante para um capixaba amante do mar...

Depois da praia, fomos ler no calçadão em frente do hotel. Pela primeira vez na viagem, comprei um jornal. Como é bom não saber do que está acontecendo. Ah! Ah! Ah!

Ontem não escrevi. Estava cansado e apaguei vendo o Globo Repórter sobre o fim do mundo (preciso ficar louco para ser mais normal). Foi um dia um tanto quanto perdido. Acordamos cedo para ir em busca de um barco. Nossa intenção era fazer o primeira trecho navegável do São Francisco (Pirapora-Juazeiro) de barco. Depois de tentarmos alguns barqueiros e pescadores, formos à Franave, uma companhia de transporte de cargas pela hidrovia. Conversamos com o presidente da empresa, depois de alguma espera (algo como uma hora).

Chama-se Lúcio. Amável e falante. Não é o tipo de pessoa de que gosto. Parece um negociante esperto.

Contamos nossos planos e ele nos autorizou a acompanhar uma fragata que estava sendo reparada em Pirapora. A previsão é que sairia apenas na quarta ou quinta-feira (estávamos na sexta), o que nos obrigaria a esperar pelo menos cinco dias em Pirapora ou viajar para conhecer outras cidades, como as do circuito do diamante – Diamantina, terra de Xica da Silva, principalmente.

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Além disso, o barco levaria quatro dias mais ou menos até Ibotirama, na Bahia, onde receberia a carga, e de 10 a 12 dias até Juazeiro, também no Estado. Foram água abaixo nossos planos de navegar o primeiro trecho do rio.

Já dentro do carro, propus que fôssemos para Januária. Foi o que fizemos. Por causa do horário, já início de tarde, partimos já, sem nem fotografarmos direito a cidade.

Planejamos agora seguir de carro pelas principais cidades ao longo do São Francisco (Bom Jesus da Lapa, Juazeiro e Paulo Afonso) até Piranhas, onde tem início o segundo trecho navegável, pelo que constatamos nas poucas pesquisas que fizemos antes de iniciar a jornada. Lá tentaremos enfim navegar pelo rio – quem sabe até o mar.


PS: Não acho meu meu boné...

14:20 Escrito por fiume em Aventura, Fotografia, Viagem | Permalink | Comentários (0) | Tags: aventura, fotografia, viagem | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook | |  Imprimir

Quarta, 05 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 4

Pirapora, Minas
Quinta-feira, 5 de agosto de 1999

 

Dia de estrada. Partimos às 9 horas de São Roque rumo a Pirapora. Só chegamos com o pôr-do-sol. Logo perdi o escapamento do carro na estrada de terra de São Roque a Bambuí.

No percurso ao longo do dia, cruzamos o rio três vezes. Em todas paramos para vê-lo. Na primeira parada, um pouco antes de Martinho Campos, ele já estava imenso, bastante azulado.

A segunda foi em Três Marias, ao lado da represa de mesmo nome. Estava ainda mais largo (300 metros de ponte). Desci ao leito para conversar com um pequeno grupo de pescadores. Estavam lá havia quatro horas (eram 16 horas), mas nada tinham pego. Vida difícil e monótona (pescavam com varas). Acho que consegui boas fotos dos pescadores, com o rio iluminado pelo sol já baixo.

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A terceira travessia foi na entrada de Pirapora. O sol se punha, o que formava uma paisagem belíssima, uma vermelhidão sobre as águas correntes. Pena ter chegado lá quando o sol havia quase totalmente desaparecido.

Pirapora não é tão pequena como imaginava. Melhor! Amanhã vamos tentar descobrir um barco que nos leve (se tudo der certo) até Juazeiro, na Bahia. Falamos com o gerente do restaurante em que jantamos (comemos um absurdo, só havíamos comido um pão de queijo na estrada). Ele nos indicou um barco, mas temo que não haja embarcações que nos leve tão longe. Amanhã descobriremos.

PS: Decidi verificar os recados no celular. Não estava me importando muito com isso. Já havia falado com meus pais na segunda-feira e hoje e tudo estava bem. Se algo de grave tivesse acontecido, eles saberiam. Notícia ruim chega rápido. Havia quatro recados. Um era do Vita, do jornal, que pediu que eu ligasse para conversarmos sobre Brasília. Esta história já está rolando há uns dois meses, mas só agora nas minhas férias vêm querer "conversar"! Não liguei de volta. Não sei quando farei isso.

Mais perdas! Contabilizando: 1. Armani. 2. Escapamento (estava todo esburacado e decidi jogá-lo fora quando se soltou) 3. Uma mão da luva. O que mais vou perder?

16:35 Escrito por fiume em Aventura, Fotografia, Viagem | Permalink | Comentários (0) | Tags: aventura, fotografia, viagem | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook | |  Imprimir

Terça, 04 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 3

São Roque de Minas
Quinta-feira, 4 de agosto de 1999

Nada de São Francisco hoje. Fomos à Cachoeira do Cerradão, num afluente chamado Santo Antônio. Fora do parque.

Foi uma boa caminhada. É possível avistá-la de longe. Imensa. Prosseguimos e a alcançamos. Mais de 200 metros de altura, em três etapas. A trilha até a base é repleta de mato e muitas, muitas pedras. Não foi uma caminhada fácil, mas exigiu bem mais agilidade que fôlego.

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A Cerradão é imensa. Subimos até a base da queda principal, passando pelas duas primeiras, bem menores. Muitas andorinhas ficam voando no meio dela, dando rasantes com suas asas brilhantes e azuis. O Rio Santo Antônio, após a queda, corre por um imenso vale de fazendas até chegar ao São Francisco – encontro que não é possível ver da Cerradão.

A base da cachoeira é cheia de pedras, que formam um leito bonito. A água é extremamente gelada. Gustavo é bem mais animado que eu para essas coisas. Entrou sem desenvoltura (ou melhor, com alguma, embora pequena) em todas as lagoas na base da cachoeira. Eu entrei apenas uma vez, "forçado" a tentar resgatar o Armani que estupidamente esqueci de trocar pelos óculos de supermercado e deixei cair de uma pedra, num vão que não consegui alcançar nem com os pés. Busca em vão. Ah! Ah! Ah!

Depois de explorar bem a base da queda, refizemos a trilha de volta e fomos de carro até uma fazenda da região. Me lembrou um pouco da infância, quando ia visitar a fazenda do vizinho ou alguma outra de um amigo qualquer de meu pai. Me integrei bastante com a família que morava lá. Gente simples e pobre, que vive da roça sem energia elétrica e dorme às 20 horas.

A mulher de Zé Mário trabalhava no corte de um porco, cujas partes eram despejadas num tonel em gordura fervente. Depois, seriam embebidas na manteiga, para que não se estragassem. Vida no campo sem geladeira...

Zé Mário era uma figura como há muito não via, principalmente neste meus tempos de São Paulo. Um caipira mesmo, que fala "arribar pra cima é o único jeito, não tem jeito de arribar pra baixo". Parecia os caipiras de Goiás.

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Conversei bastante com ele, com meu goianês. Falamos até sobre pequi, que não faz muito o gosto da família. "A trabalheira não compensa", explicou a filha dele, uma menina de uns 20 anos ou menos, cujas roupas estavam cheias de furos.

Tivemos um farto almoço caipira, com direito a uma dose de pinga para abrir o apetite, tomamos o carro até outra fazenda, para ver a Cerradão do alto. Cena impressionante. A poucos metros da casa da fazenda, corre um pequeno riacho, cujo leito seguimos. De repente, surge um precipício gigantesco, de onde as águas do riacho despencam formando a imensa queda-d'água. Tudo isso bem próximo da casa. Parece coisa de história infantil ou desenho animado.

Do alto, chegamos bem perto da beirada do precipício. Pedi a Toninho que segurasse meu colete nas costas, para que eu pudesse chegar ainda mais próximo e fotografar.

É fantástico ver do alto – mais de 200 metros! – o imenso vale à frente e o leito pedroso do rio seguindo rumo ao horizonte até se perder numa fenda entre os montes – sem contar a vista de todo o percurso que fizemos caminhando até a base.

PS: Duas sobre Gustavo: 1. Ele me disse que fotografasse, na fazenda no alto da Cerradão, as vacas que estavam num pequeno curral. Eram bezerros... 2. Entreguei meu boné a ele e disse: "Use." Ele tentou colocá-lo na cabeça e me devolveu: "Não serve." Gustavo está sempre entrevistando gente como o ministro da Economia e até o presidente da República, mas não sabe que existe um regulador de tamanho num boné...

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Segunda, 03 Agosto 2009

Na trilha do velho rio - 2

São Roque de Minas
Terça-feira, 3 de agosto de 1999

Entramos hoje no parque da Canastra. Logo chegamos à nascente do rio. É apenas um filete de água. Na verdade, há vários filetes que dão início ao rio. Estivemos em apenas um deles.

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Seguimos depois até a Casta D'Anta, a primeira queda-d'água no rio. É maravilhosa. É preciso andar bastante, subindo e descendo, para chegar até ela – partimos do alto. Eu e Gustavo bancamos breathless trekkers.

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A queda é espetacular. Tem 186 metros ininterruptos, que desaguam numa pequena lagoa. Uma visão paradisíaca. Saint-Hilaire deve ter pirado quando a descobriu, no século passado. A água, contudo, é geladíssima. Não consegui entrar. Pus apenas as pernas na água e simplesmente parei de senti-las, enquanto tentava criar coragem para prosseguir. Desisti...

Não havia sol – estava escondido atrás do morro. Isso dificultou um pouco as fotos. O contraste entre sombra e luz era muito grande. Esperemos para ver como ficaram.

Após a queda, o rio segue por entre pedras, formando um leito bonito e colorido. A água é sempre cristalina e bem fresca, excelente para aplacar a sede. Voltamos pela mesma trilha. Tudo bem descer. Subir foi bem mais difícil... E o sol das 13h30 não "ajudava" muito. Uma caminhada que deveria ter durado 1 hora custou mais ou menos 1h30.

Já de volta ao alto, apareceram os primeiros animais do parque. Havia um gavião, que teimava sempre em voar quando me aproximava para fotografá-lo. Também um pato mergulhador, que, segundo Antônio, nosso guia, está em extinção. Estava muito longe, porém. Não pudemos vê-lo direito.

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Em cima, antes da cachoeira, há no rio uma piscina natural muito bonita, que retém a água até a primeira queda, ainda pequena, e onde nadamos, depois. Em seguida, há outra piscina, bem maior, que antecede a grande queda. Belíssima!

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Da beira da queda é possível ver todo o vale entre a Serra da Canastra e sua vizinha. Vê-se ainda parte da Casca D'Anta e da piscina em sua base e todo o leito que se segue. Vê-se também todo o percurso que fizemos até embaixo e a volta.

Na estrada de terra rumo a outra cachoeira, cujo nome não me lembro, avistamos um lobo-guará. Solitário e belo. Suas pernas altas lhe dão um porte elegante. Já havia visto guarás em zoológicos, mas vê-lo ali solto, num imenso descampado, foi espantosamente tocante. Tentamos nos aproximar, caminhando no capim seco, mas ele sentiu nossa presença e fugiu.

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No caminho até o carro, Toninho Lacraia, como o guia é conhecido, apontou bem longe um tamanduá-bandeira. Decidimos ir até ele. Demos uma volta, um meio círculo, para que fôssemos na mesma direção que ele. Nos aproximamos, mas ele nos notou e começou seguir na direção oposta. Eu disse ao guia que, como já havia garantido uma foto com a objetiva, poderíamos correr na direção do animal para tentar outra de perto. Foi o que fizemos. Corri como um louco até o bicho, que passou a fugir em disparada. Cheguei bem perto dele, uns 5 ou 6 metros, correndo a seu lado. Parei e tirei a foto. O guia ficava gritando que não me aproximasse mais, pois ele poderia me atacar. Será?

O carro havia ficado muito para trás. Dava para vê-lo, pequenino, ao longe. Mais caminhada...

Fomos até a outra cachoeira e corremos (de carro) para ver o pôr-do-sol. Formava-se uma cor um pouco lilás em cima do imenso descampado montanhoso. Deslumbrante, como diria a Hilda...

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Domingo, 02 Agosto 2009

Na trilha do velho rio

 

São Roque de Minas
Segunda-feira, 2 de agosto de 1999

Chegamos ao velho rio. Foram mais ou menos 550 quilômetros de São Paulo até a Serra da Canastra. Viagem tranqüila. Já perto do povoado, havia uma ponte sobre o São Francisco. Paramos o carro ao lado da placa, toda velha e empoeirada, e procuramos uma forma de chegar a ele.

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Fiz uma prece ao tocar as águas. Atitude estranha. Não sei bem por que fiz. Por impulso, talvez. Não me lembro da última vez que fiz uma prece. É tão estranho. Não faz parte do meu mundo. Talvez tenha sido na infância. Provavelmente foi.

Pedi trégua ao rio. Toquei as águas com as mãos, lavei com elas meu rosto empoeirado e pedi trégua. Na margem do rio, disse a Gustavo que fizesse um pedido. Ele pediu que cheguemos à foz. Assim também desejo.
Hoje, conheci o rio. Amanhã, vou nascer com ele. A partir de agora, serei um rio por alguns dias.

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Segunda, 20 Julho 2009

NYC

Metrô
[clique na imagem para ver mais fotos]

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Domingo, 31 Maio 2009

Darwin is free

Central Park, NY

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Segunda, 18 Maio 2009

Em promoção

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Century 21, Nova York

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Quarta, 18 Fevereiro 2009

Um ano e um dia atrás

Cruzamento em Varanasi, Índia, domingo ao anoitecer

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Segunda, 02 Junho 2008

Cunha

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Paraty (RJ), longe à dir., vista da Pedra da Macela, em Cunha (SP). Clique na foto para ver outras

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Segunda, 10 Março 2008

Namaste

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Sadhu, homem santo hindu, em Varanasi, Índia
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Menina num tipo de "batismo", para que tenha um bom casamento; em Durbar Square, Kathmandu, Nepal
 
Clique nas fotos para ver o album completo

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Quinta, 03 Maio 2007

África do Sul

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Leão na reserva Kapama, África do Sul
Clique na foto

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Segunda, 09 Abril 2007

Monte Verde

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Monte Verde, Minas Gerais
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Domingo, 17 Setembro 2006

Gonçalves

As fotos que andei postando aí embaixo, feitas com celular e enviadas dele por email, são de uma cidadezinha no sul de Minas, bem bacana, onde faz um frio danado. Passei o 7 de Setembro lá. Pus mais fotos em um site, feitas com uma câmera normal. Clique ali na casinha com lua cheia à direita para dar uma olhada. São poucas, não vai demorar; basta ir clicando em NEXT para ir acompanhando a seqüência. E deixe uma mensagem lá para eu saber que você me fez uma visita.

03:45 Escrito por fiume em Aventura, Fotografia, Viagem | Permalink | Comentários (0) | Tags: fotografia, Minas Gerais, viagem, aventura | |  del.icio.us | | Digg! Digg |  Facebook | |  Imprimir

Domingo, 10 Setembro 2006

Gonçalves - MG

Esta apresentacao foi gerada pela VIVO


Restaurante Sauá

 

 

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